sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Pela BR 365


Agosto à dentro, a umidade já escassa, o salário no fim, a noite alta, o sono distante. A van apertada sacolejava por sobre os buracos da estrada. Aos solavancos e perdido em devaneios, pensava na vida.


Como desacelerar o turbilhão de pensamentos? Como dar um refrigério à sua mente atormentada? Já não acreditava ser possível. Condenado a seguir viagem sem pregar os olhos! A lua cheia deixava às claras a paisagem em torno da estrada. O fogo limpava a beirada do acostamento, queimando o mato ressecado, proporcionando um espetáculo de cores. A poeira deixava ainda mais áspero o ar que respirava.

Os dias passavam muito rapidamente, dando sempre a impressão de que todos os dias eram iguais. Dias com poucas tristezas, porém com alegrias tão desbotadas. Se sentia incomodado com a efemeridade do próprio tempo. A fluidez dos momentos se mostrava para ele como uma alienação dos sentimentos. Pensava não ter tempo de sentir. O gozo tão fugaz parecia um retrato desfocado em sua memória. A expectativa do futuro não lhe entusiasmava, o presente se mostrava uma fábrica bizarra de passado! O presente não se sustenta. Não há como se agarrar ao presente! Ainda mais agora que a van chega ao destino final.

4 comentários:

  1. Bela narrativa, Francisco Águas, que permite o leitor viajar com você pela BR 365, na aridez de agosto, refletindo sobre a fugacidade da vida!

    ResponderExcluir
  2. Bela narrativa, Francisco Águas, que permite o leitor viajar com você pela BR 365, na aridez de agosto, refletindo sobre a fugacidade da vida!

    ResponderExcluir
  3. é isso, aí.... Esse francisco águas anda muito poético.

    ResponderExcluir