sábado, 12 de janeiro de 2019

Jards Macalé - Trevas


Jards Macalé, cantor, compositor, produtor de discos lendários dos anos 70 (Transa, Fatal), instrumentista virtuoso, lança single de uma música inédita após vinte anos. A música lançada, é construída a partir do “Canto I” de Ezra Pound, traduzido por Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos.
É inevitável não pensar no cenário político e social que o país atravessa, com a escalada do obscurantismo, chegando aos postos oficiais da do Estado brasileiro. A faixa, um aperitivo para o 16º álbum de sua carreira, o primeiro com inéditas em 20 anos.
Produzido por Kiko Dinucci e Thomas Harres, e com direção artística de Romulo Fróes, o disco será lançado no mês que vem, é o primeiro álbum de Jards desde 2011. Artista que já escreveu seu nome na música popular brasileira, busca parceria com muitos dos jovens músicos que trabalharam recentemente com a cantora Elza Soares, que deram como frutos os dois álbuns aclamados pela crítica (A mulher do Fim do Mundo e Deus é Mulher).

Jards é um dos compositores mais importantes da música brasileira moderna — e um dos mais indóceis. Autor de clássicos do cancioneiro nacional como “Vapor Barato”, “Só Morto”, “Gotham City”, “Anjo Exterminado” e “Mal Secreto”, ele foi parceiro de Waly Salomão, Capinam, Torquato Neto, Naná Vasconcelos e Jorge Mautner, além de ser gravado por artistas tão diferentes quanto Gal Costa, Maria Bethânia, Clara Nunes e Camisa de Vênus. De alma noturna e timbre grave, Macalé é um sambista subversivo, anti-herói da própria biografia.

A música lançada junto com um belo clipe, traz em seu arranjo uma introdução que não deixa de lembrar a icônica música Ghotam City, lançada em 1969 no 4º Festival da Canção. Depois, quebra a sequência com uma levada bossa nova, com o seu vilão malemolente que o consagrou. “Chegamos ao limite da água mais funda, levanta o olhar pro céu”, canta Jards Macalé, 75 anos, com a boca submergindo como se estivesse se afogando, seu canto gravado com o rosto sobre uma bacia, balbuciando os versos enquanto afunda a voz na água. A contundente canção termina com um furioso e sujo solo de guitarra. 
Como sempre, os grandes artistas conseguem captar com sua obra o retrato dos tempos vividos.
TREVAS Música: Jards Macalé Letra: Adaptação de Jards Macalé para “Canto I” de Ezra Pound, a partir da tradução de Augusto de Campos, Décio Pignatari e Haroldo de Campos Voz e Violão: Jards Macalé Violão: Kiko Dinucci Baixo: Pedro Dantas Bateria: Thomas Harres Guitarra: Guilherme Held VIDEO CLIPE Direção: Gregório Gananian Co-direção: Gabriel Kerhart Montagem: Gregorio Gananian, Danielly o.m.m, Cesar Gananian Direção de fotografia: João França Arte Luz: LabLUXz_ LAS3R, Diogo Terra Vargas Produção de set e esculturas: Danielly o.m.m Assistente de Câmera: Ângelo Lorenzetti Color Grading: André França Finalização grade: Marcelo Rodrigues Assistência: James Peret Colaboração de montagem: Flávio Caputo Direção Musical: Jards Macalé Direção artística: Rômulo Fróes Produção Musical: Kiko Dinucci e Thomas Harres Direção Geral: Rejane Zilles Produção Executiva e Produção Artística: Thai Halfed  Gravado no Red Bull Studios São Paulo, em agosto de 2018

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Vou-me embora para URSAL



Vou-me embora para URSAL
Pois lá o rei foi enforcado em uma revolução proletária,
Lá eu e a companheira teremos a cama que escolhermos
Vou-me embora para URSAL

Vou-me embora para URSAL
Lá a felicidade não é mercadoria
Lá não tem mais valia
De modo a me espoliar
Entres estátuas de Guevara, Fridas e Fideis
Cantaremos a internacional

Em URSAL tem tudo
Foro de São Paulo, Nova Ordem Mundial,
É uma outra civilização
Tem apropriação dos meios de produção
Tem fim da propriedade privada
As mulheres não precisão de se prostituir para a subsistência,
Só namoram quem elas quiserem

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
- Lá rei foi enforcado em uma revolução proletária -
Lá eu e a companheira teremos a cama que escolhermos
Vou-me embora para URSAL

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Noite na Taverna


Noite na Taverna


Entre bons e maus sentimentos, navego pelo oceano revolto de meus pensamentos. Um violão milenar conduz meu turbilhão de pensamentos. Na taverna, no centro da América Latina me sinto no centro do mundo.


África, mouros, ciganos, ibéricos, em plena pós modernidade. O clássico transpõe as eras. O velho agoniza e padece. O novo ainda não foi concebido. Não sei se pertenço ao novo ou ao velho. Como a dançarina vertiginosa, meus pensamentos, confusos e vorazes, pululam em minha mente sertaneja. Não me afogo na profundeza da arte. Me sufoco na superfície.



Navios impulsionados por velas cruzaram oceanos. As raízes ainda ligam as terras distantes. Mesmo feridas, submersas, seus galhos ainda florescem trazendo para a copa a profundeza do solo.


O mundo gira muito rápido, tudo é muito fugaz

Do sertão eu vejo o mundo. O mundo veio para o sertão. Do cerrado eu vejo a briga de Dionísio com Apolo. Vejo a casa grande e a senzala. A guitarra milenar continua a tocar, a chorar, a sangrar, como ponteia a viola no sertão.
Oliveiras, parreiras, macaúbas e lobeiras, mediterrâneo e Rio Paranaíba. Folias de Reis e baile mediterrâneo. Mais vasto é o coração mineiro.

Os bandeirantes rasgaram o sertão. Sangraram o sertão. Hoje sangram um país. Os tropeiros estão em guerra. Os ventos do norte destroem moinhos.

Na taverna a dançarina gira com paixão. Os marginais suspiram. Eu sempre estive na margem.
Sou cativo. Sou prisioneiro. Sou escravo dos meus pensamentos.

sexta-feira, 11 de maio de 2018

Lula, Boulos e Ciro, 2018



Parte considerável dos eleitores do Lula estão sugerindo que este apoie e indique Guilherme Boulos. Realmente é um grande quadro, tem uma fluência na fala, um conhecimento de país, e mesmo bastante carisma. Porém ele é uma aposta para o futuro. Ainda é pouco conhecido e considerado radical por grande parte da sociedade. Dificilmente uma eleição majoritária tem como vencedor um candidato considerado radical. Mesmo com a indicação de Lula, creio não ter chances nenhuma. Seria entregar a eleição para a Direita ou extrema Direita. A entrevista de Boulos ao programa Roda Viva da TV Cultura demonstra o grande preparo do entrevistado.

Acho correto o Boulos e a Manuela (que também acho um grande quadro) fazerem campanha como pré candidatos, expondo seus nomes e ficando conhecidos, consolidando sua atuação política. Porém, creio que na data limite para o lançamento de suas campanhas, deveriam desistir do Planalto e se lançarem para deputados federais. Mais do que nunca a esquerda e o campo progressista, necessitam de fazer uma boa bancada. Com a atual exposição feita nos últimos eventos políticos, seriam eleitos com uma grande votação e levariam mais deputados da esquerda para o Congresso através da legenda. O Golpe só foi possível porque o governo eleito de Dilma Roussef foi engolido por um Congresso hostil. Após darem um golpe parlamentar, não pensarão duas vezes em dar outro.

Assim, concordo com o Miguel do Rosário, (em seu artigo publicado em seu blog) Lula deveria indicar Ciro.  Certamente  críticas podem e devem ser feitas ao Ciro, como inclusive ao próprio Lula, (para este autor, o maior político da história do país). Creio ser equivocado Gomes não ter comparecido no ato supra partidário contra o fascismo e querer se distanciar de Lula para tentar buscar os votos dos anti PT. Acredito ser um erro  pq esses votos ele, por ter sido ministro de governos do PT, já não tem. Ao mesmo tempo cria toda essa rejeição aos partidários do PT e de Lula. Acho saudável suas críticas aos erros estratégicos, mas realmente, em alguns momentos parece querer conquistar votos da direita e enfurece os petistas.
Porém, não há dúvidas que é bastante qualificado, tem experiência, projeto de país e políticas públicas progressistas. Sua discussão sobre a desindustrialização que o país passa e a substituição por importados é de grande relevância.

Poderá fazer um grande governo. Porém, se eleito (isso se tivermos eleições), a militância de esquerda deve cobrar uma posição sobre Lula (visto que foi condenado sem observância ao devido processo legal, sendo que com isso todos ficamos vulneráveis), tomar medidas institucionais duras sobre as ilegalidades arbitrárias do Judiciário, para restabelecer o Estado Democrático de Direito, espantando o estado de exceção e dando possibilidade dos governantes eleitos exercerem seus mandatos. 

Lula poderia ter um ministério em um possível governo Ciro, dando lastro político e popular. Seria bastante útil a presença de Lula nas composições com um Congresso heterogêneo.
Infelizmente, por todos os argumentos expostos por Rosário, Lula não tem condições de participar dessa eleição. Entendo o seu eleitorado (ao qual eu me filio), porém não pode-se entregar as eleições de mãos beijadas para a Direita ou extrema Direita.

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Entrevista – Acervo Chico Buarque

Entrevista – Acervo Chico Buarque


Criado em janeiro de 2018 o perfil do Instagram Acervo Chico Buarque, publica fotos, vídeos e documentos raros sobre a vida e obra do cantor, compositor e escritor Francisco Buarque de Holanda. Em menos de um mês o perfil já tem um número relevante de seguidores sendo seguido inclusive pela página oficial do artista.
Criada e administrada por uma advogada e cientista social do Ceará, o perfil tem postado um farto material de todas as épocas da carreira de Chico. Os numerosos fãs estão tendo a oportunidade de conhecerem muitos momentos de seu ídolo. Fotos de futebol (grande paixão de Buarque), com a família, nos palcos, entrevistas e shows; as publicações têm um relevante papel ao zelar pela memória de um dos maiores artistas vivos desse país (ou até do planeta).
Com o intuito de conhecer um pouco mais sobre este trabalho, o Blog Francisco Águas enviou algumas perguntas por email para a Administradora da página, que muito gentilmente respondeu todas as perguntas.


Blog do Francisco Águas: O perfil do instagram @acervochicobuarque tem postado fotos e vídeos das mais diversas épocas da carreira do cantor, compositor e escritor Chico Buarque. Como surgiu a ideia de criar este perfil? Quando foi criada a página?

@acervochicobuarque : Olá! A ideia de criar uma conta no Instagram, para homenagear o Chico, surgiu de maneira despretensiosa. Há muitos anos acompanho a carreira dele, logo sempre procurei homenageá-lo nas diversas mídias e redes sociais que possuímos. Recordo que em 2007 criei um perfil particular no Orkut, com o nome Chico Buarque e várias pessoas começaram a me adicionar pensando que fosse ele. Porém, nunca afirmei que era o Chico, mas apenas uma fã o homenageando. Foi bem engraçado, pois muitas pessoas mandavam depoimentos e declarações, enfim... Com o surgimento do Facebook, criei em 2011 um grupo sobre o Buarque para as pessoas da minha cidade. O grupo é pequeno, com aproximadamente 500 pessoas. Lá eu sempre compartilho fotos, vídeos, reportagens e novidades sobre o Chico. Meu objetivo não é colocar fotos bonitinhas e enfeitadas, mas sim coisas que são pouco conhecidas. E agora no dia 19 de janeiro de 2018 decidi criar um perfil no Instagram sobre ele. Hoje em dia diversos artistas estão nessa rede como também interagem com os seguidores com maior proximidade e frequência.


BFA - Quem é (são) x(s) administradxr da página? Se importa(m) de falar um pouco sobre a(s) pessoa(s) que está (ão) administrando este perfil?

@acb: Administra apenas uma pessoa e acho por enquanto melhor assim. Já tenho uma ideia definida das coisas que quero compartilhar, assim penso que fica mais interessante da forma como está para não haver choque de ideias com outros administradores. Eu sou uma Chicólatra da capital Alencarina, tenho mais de trinta e menos de quarenta anos, rs. E também sou cientista social e advogada.

BFA: Como tem acesso à tanto material interessante sobre a vida de Chico Buarque? Vocês têm algum acesso à equipe do artista?

@acb: Como falei na primeira pergunta, há muitos anos que homenageio o Chico nas redes sociais, logo, pesquiso muito na internet materiais inéditos a respeito dele. As fotos que compartilho no @acervochicobuarque encontrei em 2012 durante uma navegação na rede. Eu achei fantástico a tudo que vi. Material raro e pouco divulgado. Muitas pessoas não pesquisam, mas coisas interessantes e raras existem sim. Quanto ao acesso à equipe do Chico: apenas em 2012 tive um contato direto e pessoal com alguns músicos da banda. Porém foi algo rápido. E depois passei a ter contato dos mesmos pelas redes sociais (seguindo no facebook e Instagram), apenas isso.

BFA: O perfil oficial do compositor segue o @acervochicobuarque?

@acb: Sim, dias após a conta ser criada, o perfil do Chico passou a nos seguir, como também pessoas bem próximas à ele. 


BFA: O @acervochicobuarque postou uma entrevista do Chico nos anos 80 no programa da Marília Gabriela. O perfil oficial da jornalista repostou o vídeo e citou o acervo. É um sinal que o trabalho da página tem sido reconhecido?

@acb: Não sei se as pessoas que citam o perfil @acervochicobuarque reconhecem esse trabalho (voluntário), porém acho bacana as mesmas citarem as fontes das coisas. Quando citam a conta ajuda a divulgar e disseminar a história do Chico. E essa é a intenção: que mais pessoas possam conhecer a vida e a obra do artista.


BFA: Qual a importância da obra do artista homenageado pela página na cultura nacional?

@acb: Essa é uma pergunta difícil de ser respondida, pois estamos tratando de um dos maiores poetas da canção popular. Se Chico fosse estrangeiro, assim como Bob Dylan, certamente receberia o prêmio Nobel, rs. Uma das importâncias do Chico, na nossa cultura, pode ser explicada, por exemplo, no quesito do desenvolvimento da música popular brasileira. Ele compõe músicas retratando o povo brasileiro com grande maestria (exemplos: Funeral de um lavrador e Pedro Pedreiro), sendo assim uma grande fonte de arcabouço teórico e empírico para a compreensão dos problemas sociais do nosso país. Chico combateu e noticiou com as suas canções os ditames do regime militar. Na década de 70 escreveu obras teatrais clamando por liberdade e direitos políticos e civis (exemplo: Calabar). Ainda nessa década, lançou o lendário álbum Construção e fez a trilha sonora do filme Dona Flor e seus dois maridos. Anos após anos, Chico cria obras com grande valor sociológico, histórico, político e antropológico. 


BFA: Qual a importância de cultivar a memória de um artista do quilate de Chico Buarque de Holanda?

@acb: Sem a memória os indivíduos vivem sem rumo e norte, pois só conhecendo o passado poderemos compreender o nosso presente e vislumbrar o futuro. Logo, é necessário cultivar a memória, pois poderemos divulgar para o maior número de indivíduos as mensagens e informações que Chico sempre produziu.

BFA: Atualmente o país passa por um conturbado momento político onde os ânimos tem se acirro polarizando parte da sociedade. Em meio à esses ânimos acirrados, Chico Buarque muitas vezes tem sido vítima da perseguição por ter várias vezes se posicionado politicamente. Qual a opinião da página sobre as agressões que o artista já sofreu por conta de sua visão política?

@acb: Penso que o indivíduo médio não consegue distinguir o artista do homem. O importante é assimilar o material que o Chico produz. A sua vida íntima e convicções pertencem apenas a ele. Infelizmente não é o que acontece. Fazendo um adendo: nessas duas semanas de conta já recebi dois ataques referentes ao posicionamento político dele. O brasileiro tem muito o que a amadurecer.

BFA: X(s) administrador(es) da página conhecem pessoalmente o artista?

@acb: Sim, tive a oportunidade de conhecê-lo em maio de 2012. Um dos dias foi durante o ensaio pré show em minha cidade e quando ele voltou para o Rio também nos falamos. Em 2007 fui pela primeira vez a um show dele. Prometi para mim mesma que quando ele retornasse daria um jeito de falar com ele. E deu certo! Espero que tenha bis agora em 2018. 

BFA: Para a página, qual a fase mais relevante da obra musical de Chico Buarque?

@acb: Complicado responder, pois em todos os momentos Chico foi relevante. Entretanto, no final da década de 60 a 70 tem um grande peso. Nessa fase Chico foi um dos personagens mais importantes para retratar e combater o regime que estava instalado. 


BFA: Por fim, parabéns pelo material tão relevante. Deixe uma mensagem para os seguidores do @acervochicobuarque.


@acb: Obrigada pelo convite da entrevista. Espero que todos possam aprofundar ainda mais no universo buarqueano. A obra do Chico é atemporal, nunca está velha. Vamos redescobri-lo e divulgar para o maior número de pessoas. Qualquer sugestão para o nosso perfil é de suma importância. Até a próxima!

sábado, 2 de setembro de 2017

Eu odeio Chico Buarque - Como me tornei uma semi celebridade.

Eu odeio Chico Buarque -

Como me tornei uma semi celebridade.



Um conto de ficção escrito por Francisco Águas



Estou sendo cotado para um reality show de um canal à cabo.  Dei entrevista em um talk show de um comediante na madrugada. Fiz comercial de material esportivo de segunda linha. Fui contratado como dj (mesmo sem ser dj) para festas noturnas no interior. Fui jurado em programas de calouros. Cheguei a dar autógrafos, a tirar selfies com fãs.  O vídeo que me lançou ao semi estrelato foi o mais visualizado no YouTube no ano. Telejornais faziam matérias sobre o vídeo.
Minha vida mudou radicalmente. De repente me tornei uma celebridade da segunda divisão. Minha vida pacata e completamente anônima evaporou-se instantaneamente. Passei a ser reconhecido nas ruas, deixei meu emprego de auxiliar de contabilidade em um pequeno escritório no triângulo mineiro.
Tudo porque em uma pelada de futebol, encerrei a famosa carreira de peladeiro de ninguém mais, ninguém menos do que Francisco Buarque de Holanda! Com um carrinho violento, covarde e vil, rompi os ligamentos dos dois tornozelos do dono do Polytheama!
Chico Buarque era para mim um grande ídolo. Cresci admirando suas canções.  Li com entusiasmo seus romances.  Sempre tive inveja do fato de ser amado pelas mulheres. Adorava sua história de compositor que enfrentou a ditadura militar. Suas peças teatrais eram memoráveis, até músicas infantis fez com maestria.  Era minha maior referência!
Nunca imaginei que jogaria uma pelada com Chico Buarque.  Estava eu, ruminando minha vida nonsense, quando recebi um convite que mudaria minha existência. Em uma tarde de domingo, recebi a ligação de um amigo, secretário de cultura de uma pequena cidade próxima à belo horizonte.  Achei que fosse piada.  Convidou-me para jogar uma partida comemorativa contra o legendário Polytheama, o time de Chico.
Explicou-me que não era brincadeira.  Meu amigo, secretário de cultura da cidade onde bisavô mineiro de Chico teve uma fazenda, queria fazer uma homenagem aos 70 completados pelo artista.  Queria entregar a chave da cidade para o músico, leva-lo ao plenário da câmara de vereadores para condecorá-lo com o título de cidadão honorário, jantares de gala e discursos na praça principal.
Chico, como é avesso à homenagens e badalação,  recusou todas honrarias.  Meu amigo insistiu, mas a assessoria do cantor foi irredutível.  Como meu amigo era amigo de um companheiro de futebol de Chico, tentou ao menos marcar um jogo comemorativo na pequena cidadela. O compositor, que era verdadeiro aficionado no esporte, gostou da ideia e aceitou o convite, desde que não houvesse discursos e fosse não fosse divulgado na mídia das grandes capitais.
Peguei assim um ônibus no triângulo mineiro rumo aos arredores de Belo Horizonte.  Comprei uma chuteira nova parcelada, uma bolsa para carregar meus apetrechos futebolísticos e parti para realizar meu sonho de conhecer Chico. No ônibus lotado, mal podia suportar a ansiedade. Ficava pensando se a equipe do Chico não desmarcaria o jogo, se eu teria oportunidade de tirar uma foto com ele.
A viagem foi longa. Saí do triangulo mineiro rodei em um ônibus velho por mais de 600 kms. Seu trajeto foi pontuado por várias paradas. O ônibus parava em todas as cidadelas pelo caminho. Na metade do caminho, adentrou no veículo um senhor muito falante. Não parava de falar em voz alta, de como era íntimo do presidente do Atlético Mineiro e de como fora importante para influenciá-lo na contratação do astro do futebol, Ronaldinho Gaúcho, que até então estava em baixa. Que teria ligado para o Kalil (então presidente do clube mineiro), que ele estava em dúvida, mas com a sua indicação, iria contratar o craque. Assim, de acordo com o passageiro falante, Ronaldinho Gaúcho só levou o Atlético ao título da Libertadores da América porque ele avalizou a sua contratação.
Enquanto o cidadão conversava cada vez mais alto e contava como tinha intimidade com o folclórico presidente do Galo Mineiro, eu ficava cada vez mais ansioso para encontrar o meu ídolo. Cantarolava mentalmente várias de suas memoráveis canções, e até mentalmente eu desafinava. Ficava pensando na genialidade de suas letras, das harmonias musicais, da inventividade de seus romances, com seu capricho da linguagem. Cada quilômetro rodado eu ficava mais distante da conversa alta e delirante do atleticano. Quanto mais pensava na genialidade da obra de Chico, mais eu enxergava a minha mediocridade.
Com o coração em sobressaltos, cheguei ao meu destino final. Meu amigo me buscou na rodoviária. Levou-me até uma pensão onde ficaria hospedado. O jogo de homenagem ao artista seria às nove horas da manhã. Adentrei no quarto modesto do estabelecimento e logo pensei em tomar um banho. Fui logo tomando um choque na torneira que abria a ducha do chuveiro antigo – minha ansiedade aumentou ainda mais com a descarga elétrica.
Sob uma ducha com pouca e morna água, tentei acalmar os ânimos. Ensaiava mentalmente diálogos com Chico. Como deveria me portar perante meu ídolo. Como mostrar minha admiração sem me parecer ridículo, sem incomodar o compositor. Arquitetei várias falas mentais, algumas me pareceram um tanto blasé, outras bastante deslumbradas, sempre me sentia inadequado.
Saí para comer algo. Não tinha fome, mas precisava me alimentar para ter energia para o jogo da minha vida. Nunca fui um craque de bola, mas queria ao menos não parecer um grande perna de pau. Caminhei poucos passos da pensão e encontrei um humilde restaurante. Adentrei no recinto e pedi o cardápio. Pedi um prato feito com um acréscimo de um ovo frito com a gema mole. Comi vagarosamente enquanto pensava na possibilidade de impressionar Chico com o meu futebol. Porém lembrei que nunca impressionei ninguém com nada.
Após a refeição frugal, voltei para a pensão. Já passava das dez da noite e precisava dormir. Busquei o leito para o meu repouso. Na manhã seguinte eu deveria estar preparado para uma apresentação de gala, jogar o fino futebol contra o time do Chico! Na cama de mola, joguei meu já exausto corpo. Minha cabeça estava acelerada como nunca estivera. Pensei que conseguiria pegar logo no sono, visto que viajara o dia todo e estava muito cansado. Ledo engano.
 Na penumbra do pequeno quarto meus pensamentos viajavam velozes. Nunca imaginei que poderia jogar futebol com Francisco Buarque de Holanda. A possibilidade de chegar perto da mítica personalidade brasileira, me deixou atônito. Seu vulto gigantesco me reduzia pó. A proximidade do encontro evidenciou minha vida vazia. Era um auxiliar de contabilidade frustrado. Mal pagava minhas contas e contava os dias da semana para ficar longe do trabalho. Minha vida amorosa era marcada por fracassos e desilusões. A única namorada que tive era justamente uma fã ardorosa do Chico. Nos conhecemos em um grupo do Orkut, intitulados Chicólatras Anônimos. Porém, depois de alguns poucos anos de relacionamento ela não suportou minha mediocridade e me abandonou. Durante todos os outros anos me contentei com prostitutas baratas da cidade ou com encontros que meus colegas de trabalho tentavam me arranjar, mas que nunca prosperavam.
 A noite transcorria e eu ficava cada vez mais angustiado. Na pequena cidade em que vivia, era conhecido como o cara que gostava do Chico Buarque. Em um ambiente onde a maioria das pessoas gostavam de músicas de massa, eu era conhecido como alguém que tinha o gosto refinado, era por isso admirado. De certa maneira, me sentia erudito, inteligente, profundo, porque era fã do famoso compositor de olhos verdes. Cada vez que lia uma crítica exaltando os seus feitos, eu me sentia realizado, me sentia premiado como se o elogio tivesse sido para mim. Assim, rolando no colchão de molas da pensão, ficou evidente que até a fama de rapaz culto da cidade pequena, eu devia à Chico Buarque e não às minhas qualidades. Me senti gozando com o membro alheio. Me encontrei na beirada do abismo do vazio da minha vida. Fiquei aterrorizado com a possibilidade de olhar nos olhos de meu ídolo.
Adentrei a madrugada cada vez mais angustiado. A admiração pelo artista transmutou-se em raiva. Me sentia esmagado pelo seu vulto. O sono não vinha e fiquei pensando que Chico não podia ser tão genial como era. Fiquei pensando nas várias letras de músicas e tentando encontrar defeitos. Em como ele era um mal cantor, que sua voz de taquara rachada era irritante, mas no fundo isso me deixava mais para baixo, pois mesmo sem ter uma voz bonita, conseguia cantar bem suas músicas. Imaginava também que deveria ser má pessoa, que deveria ser mau educado, que deveria ser esnobe, arrogante, visto que ninguém conseguiria ser humilde sendo considerado um gênio das artes. Também passei a imaginar que com sete décadas já não daria conta de jogar bola mais, que eu conseguiria marcá-lo facilmente em campo. Da mesma maneira, achei que com um rosto esculpido pelo tempo, marcado por rugas e com cabelos desbotados, as mulheres já não mais gostariam dele.
Quando dei por mim, o sol já raiava. Tinha passado a noite em claro. Chico Buarque tinha roubado meu sono. Logo meu amigo passaria na pensão para me buscar para o evento. Caí num choro compulsivo. Vi que odiava Francisco Buarque. Após o pranto intenso, me levantei e me dirigi ao banheiro. Abri a torneira e levei outro choque. Fiquei alguns minutos catatônico de baixo do chuveiro. Pensei em tomar um café para me despertar.
Me dirigi ao saguão da pensão. O café da manhã servido era bastante modesto. Comi um pão com margarina, tomei um café ralo e doce que logo casou uma profunda azia. Levantei-me da mesa e retornei ao meu quarto. Nos aposentos em que pernoitei insone, repensei a minha angústia. Não existia motivo para estar assim. Na verdade seria um dia de alegria. Jogaria futebol com meu ídolo, com sorte daria um abraço nele, tiraríamos uma foto e eu poderia relatar a ele como ele é importante na minha formação, como ele é importante para o país, como ele enriqueceu nossa cultura. Com sorte tomaríamos até uma cerveja juntos. Não existia motivo para tristeza, eu teria uma oportunidade que muitos gostariam de ter.
Em pouco tempo meu amigo passou. Muito empolgado. Falou que Chico já se encontrava em direção ao pequeno estádio municipal onde seria jogado a esperada pelada. Peguei meus materiais esportivo e entrei no carro do meu amigo. Ele notou que estava com os olhos fundos. Perguntou se tinha dormido mal. Falei para ele que era só a emoção de jogar com o cantor. Mal sabia ele que não tinha pregado os olhos.
Chegamos no estádio. Entrei no vestiário. Encontrei as pessoas da cidade que formariam o time que jogaria contra o Polytheama. Me apresentei, falei que tinha sido convidado pelo secretário de cultura. Me perguntaram em qual posição jogava e informei que era na zaga. Me passaram a camisa número 3. Falaram justamente que deveria marcar o craque compositor.
Colocamos os uniformes esportivos. Atravessamos o túnel entre o vestiário e o campo. Me senti um jogador profissional. Logo avistei no gramado uma banda marcial tocando a melodia da música “A Banda”, primeiro sucesso do homenageado. Do lado da banda, um faixa em homenagem “Chico os cidadãos dessa cidade te recebem de braços abertos”. Fiquei fazendo um pequeno aquecimento. Corria de um lado para o outro, dava pulos, a ansiedade estava elevada.

Em poucos instantes, o time do Polytheama adentrou ao gramado. Chico, com a camiseta 9 com o nome Pagão (seu craque de seus jogos de futebol de botão), era o primeiro da fila. Ao som da banda marcial, foi recebido pelo prefeito que quebrando o protocolo, lhe entregou a chave da cidade. Chico constrangido, recebeu a chave e agradeceu. O prefeito, no gramado mesmo, de chuteiras e uniforme, fez um discurso que deixou ainda mais embaraçado o homenageado.
Depois do cerimonial improvisado. Para minha surpresa, Chico caminhou em nossa direção. Com muita simplicidade e carisma apertou a mão de um a um dos jogadores adversários. Pouco a pouco se aproximava de mim. Fui ficando sem reação. Todos os cumprimentados abraçavam o artista e falavam breves palavras que Chico agradecia com um simpático e carismático sorriso no rosto. Quando foi a vez de me cumprimentar, eu fiquei mudo. Mal estendi a mão para o septuagenário atleta. Sorridente, estendeu a mão e apertou a minha. Sem reação, nada disse e nem ao menos pude abraça-lo. Como em um filme, eu vi o herói se afastar da tela e voltar para o outro lado do campo para se aquecer para a pelada. Pensei comigo mesmo. Ele é humilde. Não é arrogante. Fiquei com raiva.
Do lado de fora do alambrado, uma multidão de mulheres gritavam enlouquecidas o nome do cantor. De adolescentes a mulheres maduras, todas suspiram pelos olhos de ardósia do camisa 9 mais famoso das peladas brasileiras. Fiquei desolado. Me senti como um fantasma.
Com os times postados em campo, o juiz apitou. Estremeci. Mas logo pensei, na zaga, não vou deixar esse velho pegar na bola. Pensei que ele não conseguiria fazer nada em campo. Já na terceira idade, não seria páreo para um zagueiro de meia idade. Nosso time deu a saída de bola. Como nosso time era desentrosado, logo perdemos a bola. O Polytheama começou a tocar a bola calmamente no meio de campo, nisso, o Camisa 9 se aproximou da área e se aproximo de mim. Na primeira bola que jogaram para Chico, antecipei e dei um bico para frente. Quase gritei de emoção. Não deixei-o pegar na bola. Seria fácil marcar o velhote. Com sorte, em um escanteio eu ainda subiria ao ataque e faria um gol de cabeça. Eu iria vencer Chico Buarque.
O jogo continuou sem emoções. O time de Chico tocava a bola lentamente, cadenciando o jogo. Nosso time mal pegava na bola. Porém o artista recuou um pouco e recebeu a bola. Partiu para o ataque. Certamente não corria como um jovem atleta, mas não parecia um velho, conseguiu driblar um companheiro de time, veio em minha direção. Imaginei que conseguiria tirar facilmente a bola daquele senhor. Me enganei redondamente.
Ao se aproximar de mim, dei um bote em seu direção, esticando minha perna direita em sua direção. Com sutileza, Chico colocou a bola entre as minhas pernas, pegando-a do outro lado. Me senti como se um punhal tivesse trespassado minhas vísceras, me ferindo de morte. A torcida delirou. Chico continuou com a bola e de frente para o goleiro, com classe, chutou rasteiro no canto do gol, fazendo um belo gol.
 Meus olhos encheram de lágrimas. Contive o choro. Enquanto Chico corria para abraçar os colegas e cumprimentar a torcida, eu vivi uma eternidade. Contive o choro, mas minhas vistas ficaram turvas. Perdi a sensação de direção. Fiquei parado porque me faltou ar, minhas pernas bambearam. Não sabia bem o que fazer. Quando o juiz reiniciou o jogo, já não sabia muito bem como me comportar.
 Respirei fundo. Respirei com ódio de Chico. Ele tinha acabado com a minha honra. Meus olhos ficaram vermelhos.  Minha cabeça girava. O jogo tinha recomeçado, não sabia bem o que fazer. Eu queria vingança, eu queria que Chico sentisse o gosto do vexame, do fracasso, da lona. Mais uma vez, craque das peladas voltou ao meio de campo e recebeu a bola de costas para o ataque. Me senti como um animal selvagem que vê sua vítima. Em um ímpeto de agressividade assassina, pulei com os dois pés nos tornozelos de Chico, por trás, furiosamente com todo o meu amor que tinha se transformado em ódio, acertei violentamente o cantor.
 Ele caiu no chão se contorcendo. Eu levantei, ainda em transe, me dirigi a ele caído. Com o dedo em riste, apontei para ele e bradei que ele devia respeitar mais as pessoas. Logo, todos me cercaram e me tiraram de perto do compositor. Ninguém entendia muito o que se passava. Os torcedores do Estádio Municipal pularam o alambrado e partiram em minha direção. Certamente eu seria linchado. 
Meu amigo que assistia o jogo de fora correu em minha direção. Sabia que eu corria risco de vida. Me agarrou pelo braço e me levou para o túnel, corremos por dentro do vestiário e saímos pelo portão dos fundos. Entramos no carro e literalmente fugimos. O secretário de cultura não falava uma palavra. Só chorava. Entramos discretamente no hotel onde peguei a minha mala e ainda vestido com o uniforme do jogo, fugi da cidade. Meu amigo pediu um táxi para mim e falou que acertaria a diária no hotel.
No taxi, ainda suado comecei a pensar no que tinha feito. Fui para Belo Horizonte, visto que não era seguro ficar na pequena cidade. Na rodoviária de lá eu pegaria um ônibus e voltaria para casa. No terminal rodoviário, tomei um banho e tirei a roupa esportiva. Procurei um guichê para comprar uma passagem. O próximo ônibus demoraria umas duas horas. Enquanto isso, fiquei no saguão desfalecido em um cadeira. Para minha surpresa, logo surgiu em um plantão da televisão local, a notícia de que o famoso cantor e compositor Chico Buarque tinha sido violentamente agredido com um forte e agressivo carrinho em uma cidade nas proximidades da capital mineira. Foi a primeira vez, de inúmeras vezes, que eu via o vídeo de minha agressão ao meu ex ídolo. Fiquei com medo de ser reconhecido.
Logo o meu ônibus chegou e eu parti. Com todas as emoções vividas e o cansaço, encostei no banco do veículo e adormeci profundamente. Não acordei nem nas muitas paradas dos pequenos municípios em que o ônibus passava. Fui acordado pelo motorista no meu destino. Tinha dormido mais de dez horas seguidas. Acordei assustado. Com a boca toda babada. Tinha tido sonhos com Chico Buarque, que ele me perseguia com pedras na mão, cantando,  “taca pedra no zagueiro, taca bosta no zagueiro”.

domingo, 23 de julho de 2017

Is This The Life We Really Want​? Letra traduzida da Canção de Roger Waters

Is This The Life We Really Want​? Letra traduzida da Canção de Roger Watters

Roger Waters foi o principal compositor da fase clássica do super grupo britânico de rock Pink Floyd. É autor de letras brilhantes, que marcaram a formação de várias gerações. Temas como sociedade contemporânea, guerras, consumismo, loucura, amor, ódio, já foram explorados de maneira profunda pelo compositor. 
Depois de abandonar o lendário grupo e de ficar 25 anos sem lançar um álbum de músicas inéditas, lançou o disco Is This The Life We Really Want​? Neste disco, fala sobre política, sobre a crise dos refugiados, sobre as pretensões de nossa sociedade. Disco tocante, bem produzido e que mostra que ele ainda é um compositor relevante, como na época áurea do Pink Floyd. Vejam a contundência e a beleza da letra da canção que dá título ao disco:




É Essa a Vida Que Realmente Queremos?
[Trecho de discurso de Donald Trump]
Então, como exemplo, você é a CNN. E eu quero dizer, é historia atrás de história e mais histórias, isso faz mal. Eu ganhei. Eu ganhei. E outra coisa, quanto ao caos. Não existe caos algum. Nós estamos operando essa máquina de maneira muito afina-
[Roger Waters]
O ganso engordou
A base de caviar e bares chiques
E ossos hipotecados
E lares destruídos
É essa é a vida ? o cálice sagrado?
Não é o suficiente nós termos conseguido?
Ainda precisamos que os outros falhem?
O medo, o medo move a usina dos homens modernos
Medo mantém todos nós na linha
Medo de todos esses estrangeiros
Medo de todos os seus crimes
É essa a vida que realmente queremos?
Com certeza deve ser
Pois essa é uma democracia e o que dissermos importa
E toda vez que um estudante é atropelado por um tanque
E toda vez que o cachorro do pirata é forçado a caminhar na prancha
E toda vez que uma noiva russa é posta a venda
E toda vez que um jornalista é deixado pra apodrecer na cadeia
E toda vez que a vida de uma jovem é perdida gratuitamente
E toda vez que um imbecil se torna presidente
E toda vez que alguém morre buscando as chaves no bolso
E toda vez que a Groenlândia cai na porra do oceano é porque
Todos nós, Brancos e Pretos
Mexicanos, Asiáticos, e todo tipo de grupo étnico
Até o povo o povo de Guadalupe, o velho, o jovem
Bruxas sem dentes, super modelos, atores , viados, corações sangrando
Estrelas do Futebol, homens atrás das barras, lavadeiras, alfaiates e putas
Vovós, vovôs, tios, tias
Amigos, relações e vagabundos sem casa
Clérigos, caminhoneiros, diaristas
Formigas - talvez formigas não
Por que não as formigas?
Bem porque é a verdade
As formigas não tem QI suficiente pra diferenciar
A dor que os outros sentem
E por exemplo, cortando plantas
Ou rastejando nas brechas das janelas em busca de latas de mel abertas
Então, assim como formigas, somos apenas burros?
É esse o porque de não sentirmos ou vermos?
Ou estamos todos entorpecidos em num reality TV?
Então, toda vez que a cortina cair
Toda vez que a cortina cair em cima de uma vida esquecida
É porque nós todos apoiamos, silenciosamente e indiferente