Centenário de Grande Otelo é celebrado neste domingo
Uberlandense alcançou expressão internacional e faleceu em 1993.
Cidade natal do artista prepara programação comemorativa.
Publicado no G1.
Grande Otelo nasceu em Uberlândia
(Foto: Acervo Cinemateca Brasileira)
(Foto: Acervo Cinemateca Brasileira)
O artista uberlandense Grande
Otelo, pseudônimo de Sebastião Bernardes de Souza Prata, completaria 100
anos neste domingo (18). O G1 conversou
com um historiador e com um produtor cultural para relembrar a
trajetória do artista, falecido há mais de 20 anos e que marcou presença
no Brasil e no mundo. A reportagem ainda falou com o secretário de
Cultura sobre as comemorações e o teatro Grande Otelo, em Uberlândia.
Sebastião Bernardes nasceu em 18 de outubro de 1915. Ele foi ator,
comediante, cantor, escritor, compositor e poeta. Na década de 1920,
participou da Companhia Negra de Revistas, que tinha Pixinguinha como
maestro. Já em 1932, entrou para a Companhia Jardel Jércolis, um dos
pioneiros do teatro de revista. Foi nessa década que ganhou o nome
Grande Otelo, como ficou conhecido.
Ele ainda fez inúmeras parcerias
no cinema, sendo a mais conhecida com Oscarito. Também trabalhou no
humorístico "Escolinha do Professor Raimundo", da Rede Globo, no início
dos anos 1990. O último trabalho foi uma participação na telenovela
"Renascer", pouco antes de morrer de um ataque de coração, em 1993. O
artista deixou cinco filhos. Um deles é o também ator José Prata.
Para o jornalista e produtor
cultural Carlos Guimarães Coelho, Grande Otelo significa muito para a
cidade e toda a região. "Ele trafegou por todas as áreas e teve uma
grande repercussão internacional, talvez a maior depois de Carmen
Miranda. Apesar de não ter enriquecido com o trabalho, atuou muito na vida e construiu uma carreira impressionante", destacou.
Mesmo com toda a fama, Guimarães critica o fato da história de Grande Otelo não ter sido resgatada pela cidade. "Se
fizermos uma enquete, acredito que a maioria da população local nem
deve saber que Grande Otelo é de Uberlândia. Vejo gente querendo usar o
nome dele para projetos, nem sempre culturais, até mesmo sem pagar os
direitos de imagem, que, por direito, pertencem aos filhos dele. Já
estamos no final do ano do centenário do artista e a única coisa feita
até agora foi um calendário, mais nada. O fato
é que um artista da envergadura de Grande Otelo merecia não somente
mais presença na cidade como também ser fonte de pesquisa e inspiração
para os artistas que vieram depois", explicou.
Guimarães acrescentou que, em 2014, chegou a formatar
um projeto para a Secretaria de Cultura, com várias ações em celebração
ao centenário do artista. Até uma estátua em tamanho natural estava
prevista, mas nada saiu do papel. O produtor cultural citou ainda que
soube de uma atriz, também admiradora de Grande Otelo, que formatou e
reformatou a ideia para as leis de incentivo à cultura, fez vários
contatos e nada aconteceu.
O historiador Tadeu Pereira Santos estuda o artista desde 2011 e
atualmente faz doutorado embasado em Grande Otelo. O pesquisador tem um
acervo de mais de 400 revistas, filmes, discos e revistinhas em
quadrinho que cita o uberlandense. "A princípio comecei a estudar a
questão do racismo ligada ao artista e, ao longo das pesquisas, fui
fazendo recortes da infância, da cidade e das formações de Sebastião
Bernardes. Também apurei conflitos e desacordes da vida dele", afirmou.
Santos fez questão de citar que, para a história, este não é o ano do
centenário de Grande Otelo e sim de Sebastião Bernardes, pois o
personagem só se consolidou em 1935. Para ele, Grande Otelo é um produto
cultural. "Foi uma forma que encontraram de comercializar uma arte. Um
'produto' que se faz aceitável e vendável. Existe um Sebastião que
precisa ser resgatado. Eu estudo justamente isso, a criança, o
adolescente, o político e o religioso que foi Sebastião", ressaltou.
Comemorações
Em homenagem ao centenário do artista, haverá neste domingo uma festa
no Terreirão do Samba, em Uberlândia, a partir das 14h. O grupo de
pagode Serelepe fará show no local a partir das 18h.
Segundo o secretário de Cultura, Gilberto Neves, as demais comemorações
do ano do centenário serão em novembro, quando também se celebra o Dia
da Consciência Negra. “Vamos fazer um evento musical no Teatro Municipal
no dia 15 de novembro. Também estamos tentando transferir o Prêmio
Grande Oleto, que foi aprovado em lei e passa a valer em 2016, para ser
entregue também este ano. O prêmio valoriza artistas da nossa terra”,
contou.
Neves ressaltou que no teatro também vai haver atividades artísticas e
mostra de filmes do Grande Otelo. “Nós estamos fazendo toda a
programação e a intenção é incluir uma exposição artística. Não podemos
deixar a data passar em branco. Grande Otelo é muito importante para
Uberlândia”, afirmou.
O secretário acrescentou que as comemorações também serão feitas em
outras secretarias, como a de Educação. Segundo ele, haverá um seminário
para discutir o centenário de Grande Otelo. O evento será realizado
durante a Feira Literária da cidade, que ocorre de 15 a 20 de
novembro. "Grande Otelo se tornou referência no Brasil e no mundo e, por
ser de Uberlândia, mostra valores culturais significativos. É uma
pessoa da comunidade negra, pobre e que chegou ao estrelato mundial. Ele
superou muita coisa e precisamos comemorar esses 100 anos", destacou.
Teatro Grande OteloA restauração e reativação do Teatro Grande Otelo fazem parte do programa de governo do atual prefeito de Uberlândia, Gilmar Machado (PT). Contudo, o prédio foi interditado judicialmente e, na mesma ação civil pública representada pelo Ministério Público Estadual (MPE) em 2011, foi pedido que a arquitetura fosse preservada e o prédio tombado como patrimônio histórico.
Em abril deste ano, o juiz da 1ª Vara da Fazenda Pública, João Ecyr Mota Ferreira, julgou procedentes os pedidos do Ministério Público Estadual (MPE) e determinou o tombamento do Teatro Grande Otelo, em Uberlândia, além da restauração do imóvel. Desativado, o teatro se encontra com aspecto abandonado e apresenta pichações nas paredes.
Linha do tempo
- 1915 No dia 18 de outubro, nasce Sebastião Bernardes de Souza Prata, o Grande Otelo, na então São Pedro de Uberabinha, conhecida hoje como Uberlândia (MG)
- 1923 Ainda criança, apresenta-se em um picadeiro de circo como Bastiãozinho, de braços dados com um palhaço
- 1926 Estreia no teatro
com Nhá Moça, em Campinas (SP) - 1927 Participa da Cia Negra de Revistas, que tinha Pixinguinha como maestro
- 1932 Ganha o apelido “The great Otelo” de Jardel Jércolis, um dos pioneiros do teatro de revista. Com o tempo, o nome ganhou versão em português
- 1938 Torna-se a estrela do Cassino da Urca
- 1940 Até meados dos anos 1950, faz parcerias com Oscarito em comédias como Matar ou correr e Carnaval no fogo
- 1942 Participa do filme It’s all true, de Orson Welles
- 1943 Interpreta sua própria história no cinema: Moleque Tião
- 1949 Uma tragédia abala sua vida: sua primeira mulher mata o filho menor e suicida-se
- 1960 É contratado pela Rede Globo e participa de novelas de sucesso como Uma rosa com amor (1972) e Sinhá Moça (1986)
- 1969 É lançado Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade, em que interpreta o papel-título
- 1982 Participa de Fitzcarraldo, de Werner Herzog, filmado na Amazônia
- 1990 Participa da Escolinha do professor Raimundo com o personagem Eustáquio. Eterniza o bordão ‘‘Aqui. Que queres?”
- 1993 Morre de um ataque fulminante do coração em Paris, onde seria homenageado no Festival de Nantes
Entrevista no Roda Viva:
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