terça-feira, 27 de outubro de 2015

"MasterChef Júnior", a adultificação das crianças e o fim da vergonha

"MasterChef Júnior", a adultificação das crianças e o fim da vergonha


http://cinegnose.blogspot.com.br

O episódio do assédio sexual através das redes sociais sofrido pela menina Valentina na primeira edição do reality televisivo “MasterChef Júnior” é a ponta do iceberg de um movimento mais profundo e perigoso: o fim da vergonha como a barreira que continha a sedução pela barbárie e a adultificação das crianças pelas mídias. Sexismo, ódio, assédio sexual e intolerância que invadem as redes sociais lembram as sombrias profecias de escritores libertinos do século XVIII de que um dia as perversões privadas se tornariam virtudes públicas. E as crianças, transformadas em mini-adultos em um programa de final de noite onde correm contra o tempo segurando o choro, são o reforço motivacional para os telespectadores acordarem no dia seguinte e repetirem as mesmas situações na fábrica ou no escritório.

Os leitores devem já conhecer a opinião desse Cinegnose em relação ao reality show MasterChef da Band: é um bullying gastronômico – um programa de final de noite com o objetivo de reforçar subliminarmente a ideologia pela qual seremos regidos quando acordarmos no dia seguinte para trabalhar: o princípio do desempenho.

Correr contra o tempo em busca da eficácia, eficiência, produtividade, mérito e cumprimento de metas sob as chibatadas de algum superior do tipo gerente, diretor, gestor etc. MasterChef transforma isso em diversão ao nos deliciarmos em ver pessoas angustiadas e esbaforidas correndo contra o relógio sob gritos e olhares inquiridores de chefes de cozinha. Igual o que acontecerá com o telespectador no dia seguinte na vida real na fábrica, escritório ou em outra empresa qualquer.




Algo assim como o observado pelo filósofo Theodor Adorno em relação ao riso sadomasoquista ao vermos o Pato Donald sendo mais uma vez demitido pelo Tio Patinhas com um chute no traseiro: riso nervoso porque no fundo sabemos que um dia passaremos por aquilo.

Pois agora a franquia MasterChef quer ir além: não basta apenas reforçar o princípio do desempenho no presente, em adultos telespectadores sadomasoquistas. Agora o programa tem que pensar no futuro: as crianças.
Elas também devem conhecer o futuro que as aguarda: correr contra o tempo, competição, facas, panelas de pressão e... bullying e assédio sexual.

MasterChef Júnior é mais um produto da franquia que estreou a semana passada na Band onde vinte crianças entre nove e treze anos participam de uma competição culinária.

Enquanto as crianças em suas bancadas corriam contra o relógio (mostrando os ponteiros em closes dramáticos sob uma trilha de suspense ao melhor estilo do clássico western Matar ou Morrer com Gary Cooper) e seus pais torciam observando a tudo do alto de um mezanino, nas redes sociais os competidores mirins era alvos de comentários adultos elogiosos e outros nem tanto.

Valentina, menina de 12 anos, tornou-se alvo de comentários de teor sexual. Alguns chegando a apologia ao estupro. Infelizmente para Valentina seu refinado ravióli recheado com gema de ovo mole não foi o que a levou ao topo do Trending Topics no Twitter, mas sim a chuva de comentários do calibre de “panela nova é que faz comida boa”, “Valentina: se tiver consenso é estupro?” ou “#valentinaplayboy”.

“Novinha”, “vagabunda”, “já aguenta” foram os “elogios” mais “leves” de homens em perfis do Facebook e Twitter.

Duas questões chamam a atenção nesse triste episódio: a tendência atual da transformação das perversões privadas em “virtudes” públicas e a adultificação midiática das crianças.  

Vergonha e barbárie


Freud afirmava de forma sombria que a civilização não podia existir sem o controle dos impulsos, principalmente o da agressão e da satisfação imediata. Para ele, andamos no fio da navalha do perigo constante de sermos possuídos pela barbárie: a violência, a promiscuidade e o egoísmo. A vergonha é um dos principais mecanismos para manter a barbárie à distância: o temor em praticar certos atos ou manifestar certos pensamentos. Tornam-se misteriosos e temíveis pelo fato de serem continuamente escondidos das vistas do público.
Recentemente o escritor e semiólogo italiano Umberto Eco acusou as redes sociais de “terem dado o direito de falar a uma legião de idiotas”. Talvez seja mais do que isso: as redes sociais vêm anulando o mecanismo civilizatório da vergonha – ódio, intolerância, racismo, sexismo, assédio e perversões tornam-se públicas, não mais como sintomas patológicos mas agora como “opiniões”, “haters”, “politicamente incorretos” ou, o que é pior no caso brasileiro, resistências contra a “demonização” do sexo imposta por uma suposta conspiração chefiada por “feminazis”, a “ditadura gay” e a ideologia do politicamente correto das Esquerdas.

Certa vez Choderlos de Laclos, autor do romance Ligações Perigosas, do século XVIII, afirmou que um dia as perversões privadas se tornariam virtudes públicas – e ironicamente a profecia realiza-se no sofisticado ambiente tecnológico da Internet. A barbárie que sempre flertou com a civilização e o psiquismo de cada um de nós ganha um inusitado impulso eletrônico-digital.

Adultificação da criança


E relacionado a isso temos o fenômeno da adultificação da criança. TV, cinema e, mais tarde, YouTube criaram uma dinâmica cultura da celebridade que substituiu o antigo modelo paterno de ego ideal. Os pais modernos sempre sentiram que a mídia superou há muito a família como agência socializadora. Por isso, tornar o filho em imagem tornou-se o único legado que os pais podem deixar.

Já foi o tempo em que a mãe orgulhosa mostrava o bebê e a sua foto – o book de fotos era a única memória familiar palpável. Mais tarde, a obsessão do filho fazer parte de books de agências de cast de filmes publicitários. Hoje, a chance de virar uma celebridade em um reality júnior qualquer.


A proletarização dos pais e a vida familiar cada vez mais rarefeita fizeram os filhos serem expostos cada vez mais cedo ao mundo externo, desde a creche nos primeiros meses de vida até chegar ao único legado da paternidade ausente: transformar o filho em imagem e celebridade.

Mas a celebridade tem um preço, como nos mostra MasterChef Júnior: ser um pequeno adulto (um chefe mirim que já enfrenta o desafio de criar um prato com barriga de porco e manipular facas) exige pagar a moeda de cumprir o princípio de desempenho – ser um modelo de pequeno adulto para o deleite dos próprios adultos que veem neles o conforto resignante de que a vida de diariamente correr contra o tempo sob a chibata de um chefe sempre foi assim e assim será para sempre.

Enquanto na primeira edição do programa os mini-chefes corriam contra o tempo esbaforidos, angustiados e segurando o choro, do mezanino as mães gritavam histéricas: “enxuga os olhos e vai!”, “Não chora!”... A educação pela dureza como modelo que legitima a própria vida dos adultos – as crianças passam por um jogo que é o microcosmo do futuro que lhes aguardam.
Por isso as crianças adultificadas são as novas celebridades dos adultos. Como toda celebridade, tornam-se objeto ao mesmo tempo de amor e ódio (como comprovou o assassinato de John Lennon por um fã em 1980) – por um lado são admiradas como modelos meritocráticos de sucesso e, por outro, odiadas por lembrar que segurar o choro sob o julgamento do relógio e do olhar do superior é o destino de todos os telespectadores quando acordarem no dia seguinte.
Talvez aí esteja a origem psíquica de todo ódio e assédio sexual sofrido pela pequena Valentina – ao mesmo tempo desejada e desprezada. Como todas as celebridades, não são admiradas mas invejadas. Objetos de transferência de uma carga de amor e desejo (quem não quer transformar-se em celebridade para supostamente fugir da mediocridade cotidiana?) e também de raiva e vingança porque, afinal, o choro que Valentina teve que segurar diante do fogão é um alusão do que aguarda cada telespectador quando acordar no dia seguinte.
Adultificados, desde cedo devem ser expor à pressão da competição e ao assédio sadomasoquista dos telespectadores. E os pais, ausentes e substituídos pela mídia, nada têm a dizer além do: “enxuga os olhos e vai!”...

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Daniel de Medeiros: O Enem e a falácia da “doutrinação”; quem realmente quer o retrocesso?


Publicado em: www.viomundo.com.br




O Enem e a falácia da “doutrinação”
Lembrou na edição desse domingo, 25 de outubro, a insuspeita jornalista econômica Miriam Leitão, que nesses 30 anos, avançamos em três áreas importantes: democracia, estabilidade e inclusão. E que voltar atrás é inaceitável.
No sábado, dia 24, a prova de Ciências Humanas do Enem, cujas questões são formuladas por um pool de professores das 57 universidades públicas do país, deu um banho de democracia, estabilidade e inclusão, elencando para os jovens postulantes a uma vaga no ensino superior, questões sobre a terceira revolução industrial e a desterritorialização da produção ( o que lembra o quanto é bem vinda a multietnicidade dos produtos ao mesmo tempo em que renascem os discursos racistas quanto a pessoas), sobre a moda dos selfies e o narcisismo epidêmico das sociedades urbanas contemporâneas, sobre o desencantamento e a racionalização em Max Weber, sobre a precaução necessária com o transgênicos, sobre a luta histórica pela igualdade de gêneros, sobre os condicionamentos sociais em Mannheim, sobre as guerras e os riscos aos patrimônio material, sobre a proteção ao meio ambiente, sobre a crise da água, sobre a superação da visão mítica do mundo nos pré-socráticos, sobre a alteridade ( em uma bela questão lembrando a importância de se colocar no lugar do outro para avaliar nossas convicções), sobre os excessos do Estado nos regimes ditatoriais, sobre os riscos da espionagem via internet, sobre a multiperspectividade do passado ( ao apresentar dois textos sobre o mesmo fato, a Guerra de Canudos, mostrando a importância do cotejamento das fontes), sobre o papel simbólico e a extensão social da Abolição, sobre o papel de apoio ( aparentemente controverso) das colônias africanas às suas metrópoles na segunda guerra mundial, sobre o papel dos movimentos sociais no aprofundamento da democracia brasileira, levando-a para além da mera participação eleitoral, sobre o conceito de Estado em Hobbes, sobre a importância das imagens no cenário político brasileiro, sobre o papel dos intelectuais na formação do mundo ocidental, sobre a ágora ateniense, sobre a globalização e sua crítica, sobre o problema da erosão nos rios, sobre a concentração urbana no Brasil, sobre o Código eleitoral brasileiro de 1932 e seus avanços, sobre o endividamento brasileiro no regime militar que fundamentou o chamado “milagre brasileiro”, sobre o pan-africanismo, sobre a construção da memória por meio da arte ( e como ela pode servir a propósitos que não são a verdade dos fatos), sobre os sofistas gregos, sobre o conceito de “homem cordial” em Sérgio Buarque de Holanda, sobre as novas formas sustentáveis de explorar a Amazônia, sobre os biomas brasileiros e os problemas que apresentam, sobre as relações entre trabalho e avanço tecnológico, sobre o conceito de Maioridade em Kant ( por meio de uma bela citação de Paulo Freire), sobre os riscos dos agrotóxicos nos alimentos, sobre a dificuldade de os europeus aceitarem a cultura ameríndia ao longo da colonização, sobre o confronto do conceito de socialismo e o capitalismo de Estado da China contemporânea e, finalmente, sobre a crise financeira mundial.
Como se pode ver, a prova de Ciências Humanas do Enem abordou, com largo espectro, temas políticos, econômicos, sociais, culturais, tecnológicos, filosóficos, educacionais, regionais, nacionais e globais, com competência e precisão, utilizando textos e imagens de autoridades e/ou personalidades conhecidas e respeitadas em suas áreas de atuação.
A opção da prova do Enem é claramente a de uma prova cidadã, preocupada com a seleção de jovens capazes de ler, interpretar e se posicionar sobre temas fundamentais, relevantes e urgentes da contemporaneidade.
E a pergunta que resta é: onde está a “doutrinação?” Onde está o viés de “esquerda”? Por acaso os temas tratados na prova não se coadunam com as importantes questões da nossa democracia? Por acaso não é importante que jovens conheçam e debatam essas questões?
O que fica cada vez mais claro é que a falácia da “doutrinação” esconde o desejo da censura e do autoritarismo, travestido de peroração voltado para os que não cuidam de ver com seus próprios olhos e escutar com seus próprios ouvidos.
Que este artigo funcione como um convite para que os leitores e leitoras leiam a prova, analisem suas questões, avaliem as alternativas e só depois formulem seus julgamentos. Não ver e não gostar, não ler e condenar é o caminho mais rápido e fácil para o retrocesso. E quem REALMENTE quer o retrocesso?

domingo, 25 de outubro de 2015

Reação ao tema da redação do ENEM pela direita conservadora.


A reação que muitas pessoas tiveram ao tema da redação do ENEM é assustador. O tema, simples e importante: "a persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira"foi tratado por muitos, em redes sociais, como doutrinação marxista e afronta à família brasileira.

O fato de lutar contra a violência feminina é apenas tentar consolidar a própria Constituição Federal que define que todos são iguais perante a lei. Defender que as mulheres não sejam constantemente violentadas, em nada diminui o meu direito de homem. Muito pelo contrário, quero lutar para que minha mãe, tias, primas, possíveis filhas, namorada, amigas e qualquer mulher, tenham sua integridade física e psíquica respeitadas.

Tal tema além de não se mostrar em nada ofensivo à ninguém é totalmente pertinente, tendo em vista os números alarmantes de violência contra as mulheres e sua vulnerabilidade social. Dessa maneira, é assustador ver a reação de muitas pessoas que se ofenderam pelo simples debate sobre o respeito às mulheres. Ao meu ver, tal reação só mostra o quanto grande parte da sociedade é machista e quer manter estruturas arcaicas ainda em nossa contemporaneidade. 

Por outro lado, tais atitudes mostram a verdadeira face de muitas pessoas que tentam se passar como pessoas ilustradas e racionais. Porém, sob um véu de modernidade e de instrução formal, trazem ideias de dominação que se aproximam do fascismo!
Parabéns ao MEC, e triste de ver a ideia de respeito às mulheres ser rechaçada tão veemente por grande parte da sociedade em pleno século XXI! 


sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Por que as pessoas se incomodam tanto com os Los Hermanos?

Do Blog do Matias


Estamos em mais um “momento Los Hermanos'', aquela época imprecisa em que Camelo, Amarante, Bruno e Barba se reúnem para lembrar sua curta discografia frente a milhares de devotos apaixonados em diferentes cidades pelo Brasil. E sempre neste momento surgem aqueles dispostos a esbravejar contra a existência da banda, como se quatro cariocas fazendo um som fossem ameaçar a vida de alguém.
É impressionante como as pessoas se incomodam com tudo – não apenas com os Los Hermanos -, quando a única coisa que eles precisam fazer é não dar atenção para o que lhes incomoda. É tão simples. Mas preferem esbravejar contra tudo e todos: o último capítulo do seriado que todos assistem, o filme mais esperado, o sucesso sertanejo da vez, o show transmitido pela televisão, E isso, como qualquer coisa hoje em dia, é amplificado pela internet. Não bastasse a grita do maniqueísmo ideológico desta década, que reduz tudo a prós e contras, “o meu time contra o seu time'', e a histeria em torno de qualquer assunto banal, ainda temos que aguentar resmungões que desatinam textos enormes contra modismos e paixões apenas para juntar likes e reunir outros reclamões nas caixas de comentários para repetir variações de “é isso aí!''.
Pois o grupo carioca surgiu justamente como uma antítese a esse pensamento de manada. Lá no fim dos anos 90, quando ainda era um sexteto de rock que tocava para meia dúzia de gatos pingados no Rio de Janeiro, eles tinham tudo para dar errado: eram uma banda de rock numa cidade cuja cena de rock se desfazia, cantando letras românticas sobre bases hardcore, tentando achar um meio termo entre Weezer, Mr. Bungle e Nelson Cavaquinho, olhando para o mangue beat como inspiração para recriar uma música carioca que fosse ao mesmo tempo moderna e reverenciasse as tradições da cidade. Eles tinham um saxofonista na formação! Enquanto o Rio de Janeiro reinventava-se à base de funk carioca, Fausto Fawcett e Fernanda Abreu, deixando para trás todo o bucolismo praiano da bossa nova, os Hermanos tentavam achar um fio da meada entre o apartamento de Nara Leão e o selo indie Midsummer Madness, entre o início das escolas de samba e o então decadente carnaval de rua da cidade.
Ninguém apostaria que a banda daria certo – tirando eles mesmos. E aquela convicção começou a arregimentar curiosos, que aos poucos viravam fãs e começavam a espalhar a notícia no boca a boca. Logo seus shows começavam a encher a ponto de chamar atenção das gravadoras, que ainda não tinham sucumbido à era do MP3. O grupo lançou seu primeiro disco em 1999 após criar expectativas com duas fitas demo e conseguiu alguma repercussão logo de saída. Mas foi a simplicidade Jovem Guarda de uma das músicas menos cotadas do disco de estreia (“Anna Julia'', claro) que pegou outros artistas de jeito e a música logo era sucesso no repertório dos trios elétricos baianos que, começando a viver mais uma crise sazonal da axé music, se ancoraram no hit carioca para bombar o primeiro carnaval dos anos 2000.
Qualquer outra banda surfaria naquela onda de sucesso, mas os Hermanos não estavam querendo só fazer sucesso. A banda havia sido formada para fugir da mesmice e agora via-se pautando a própria mesmice da vez. A principio tirou a música do repertório dos shows, mas o sucesso acendeu a luz amarela para a banda e eles se retiraram em um sítio para compor o novo disco – preocupados em não virar caricaturas de si mesmos.
E lançaram três discos que mudaram a cara do pop nacional. Se você acha que o cenário musical brasileiro se afunila na versão hi-fi do funk carioca e no sertanejo que aprendeu o modus operandi da axé music (isso é sinal que você está ouvindo rádio demais e assistindo muita TV), saiba que este cenário seria bem mais agressivo caso os quatro cariocas não tivessem fugido do sucesso e criado o oásis para seus fãs composto por O Bloco do Eu Sozinho (2001), Ventura (2003) e 4 (2005). Foi essa trilogia de discos que preparou o terreno para que artistas como Céu, Tulipa Ruiz, Marcelo Jeneci, Tiê entre outros, pudessem florescer, reunindo diferentes linhas de frente da nova música brasileira, como a geração pernambucana pós-mangue beat, o rock gaúcho e o rap menos gangsta. Até o lado mais experimental desta cena foi contemplado, quando grupos como Hurtmold e Cidadão Instigado foram convidados para abrir os shows da banda. Se o Los Hermanos não tivesse se voltado para o samba, para uma tradição brasileira e para o que eles realmente queriam fazer, o pouco que haveria sobrado do rock nacional seria um misto de viúva dos anos 80 com um arremedo dos anos 90, uma mistura de Capital Inicial com Charlie Brown Jr. com saudades da MTV Brasil.
Mas essa separação de gêneros musicais é secundária. O grande legado do grupo foi ter criado seu próprio canto, seu porto seguro musical inclusive do ponto de vista da sobrevivência comercial da banda – ela não precisa mais estar na ativa, lançar discos todos os anos ou entrar em turnês constantes para pagar as contas. Cada um deles segue sua vida fazendo o que quer até a hora em que se juntam para reencontrar os fãs – sem nunca ter que terminar com a banda nem perder a amizade. Eles não voltam a tocar no rádio e não precisam aparecer na TV – continuam fazendo o que querem, para alegria de seus fãs. Podem até, se quiser, gravar um disco de inéditas – carta na manga que devem estar guardando para o momento exato. Mas mostram que não precisam estar na crista da onda o tempo todo, insistindo em aparecer, em todos os lugares, entupindo nossa visão com músicas e imagens.
Quem faz isso são seus fãs. E se você não gosta nem do grupo nem de seus fãs, talvez possa aproveitar ao menos uma lição deixada pelo grupo: deixa pra lá. 


OBS do Chico Águas: É inegável a relevância e a qualidade da Banda. Porém ficar reunindo sem material novo, apenas tocando músicas antigas (mesmo sendo belas canções), a banda cada vez mais fica parecida com uma banda de auto cover! 

domingo, 18 de outubro de 2015

Centenário de Grande Otelo é celebrado neste domingo

Centenário de Grande Otelo é celebrado neste domingo

Uberlandense alcançou expressão internacional e faleceu em 1993.
Cidade natal do artista prepara programação comemorativa.

Publicado no G1.
Fernanda Resende Do G1 Triângulo Mineiro 
Grande Otelo (Foto: Acervo Cinemateca Brasileira)
Grande Otelo nasceu em Uberlândia
(Foto: Acervo Cinemateca Brasileira)
O artista uberlandense Grande Otelo, pseudônimo de Sebastião Bernardes de Souza Prata, completaria 100 anos neste domingo (18). O G1 conversou com um historiador e com um produtor cultural para relembrar a trajetória do artista, falecido há mais de 20 anos e que marcou presença no Brasil e no mundo. A reportagem ainda falou com o secretário de Cultura sobre as comemorações e o teatro Grande Otelo, em Uberlândia.
Sebastião Bernardes nasceu em 18 de outubro de 1915. Ele foi ator, comediante, cantor, escritor, compositor e poeta. Na década de 1920, participou da Companhia Negra de Revistas, que tinha Pixinguinha como maestro. Já em 1932, entrou para a Companhia Jardel Jércolis, um dos pioneiros do teatro de revista. Foi nessa década que ganhou o nome Grande Otelo, como ficou conhecido.
Ele ainda fez inúmeras parcerias no cinema, sendo a mais conhecida com Oscarito. Também trabalhou no humorístico "Escolinha do Professor Raimundo", da Rede Globo, no início dos anos 1990. O último trabalho foi uma participação na telenovela "Renascer", pouco antes de morrer de um ataque de coração, em 1993. O artista deixou cinco filhos. Um deles é o também ator José Prata.
Para o jornalista e produtor cultural Carlos Guimarães Coelho, Grande Otelo significa muito para a cidade e toda a região. "Ele trafegou por todas as áreas e teve uma grande repercussão internacional, talvez a maior depois de Carmen Miranda. Apesar de não ter enriquecido com o trabalho, atuou muito na vida e construiu uma carreira impressionante", destacou.
Mesmo com toda a fama, Guimarães critica o fato da história de Grande Otelo não ter sido resgatada pela cidade. "Se fizermos uma enquete, acredito que a maioria da população local nem deve saber que Grande Otelo é de Uberlândia. Vejo gente querendo usar o nome dele para projetos, nem sempre culturais, até mesmo sem pagar os direitos de imagem, que, por direito, pertencem aos filhos dele. Já estamos no final do ano do centenário do artista e a única coisa feita até agora foi um calendário, mais nada. O fato é que um artista da envergadura de Grande Otelo merecia não somente mais presença na cidade como também ser fonte de pesquisa e inspiração para os artistas que vieram depois", explicou.
O fato é que um artista da envergadura de Grande Otelo merecia não somente mais presença na cidade como também ser fonte de pesquisa e inspiração para os artistas que vieram depois
Carlos Guimarães Coelho, produtor cultural
Guimarães acrescentou que, em 2014, chegou a formatar um projeto para a Secretaria de Cultura, com várias ações em celebração ao centenário do artista. Até uma estátua em tamanho natural estava prevista, mas nada saiu do papel. O produtor cultural citou ainda que soube de uma atriz, também admiradora de Grande Otelo, que formatou e reformatou a ideia para as leis de incentivo à cultura, fez vários contatos e nada aconteceu. 
O historiador Tadeu Pereira Santos estuda o artista desde 2011 e atualmente faz doutorado embasado em Grande Otelo. O pesquisador tem um acervo de mais de 400 revistas, filmes, discos e revistinhas em quadrinho que cita o uberlandense. "A princípio comecei a estudar a questão do racismo ligada ao artista e, ao longo das pesquisas, fui fazendo recortes da infância, da cidade e das formações de Sebastião Bernardes. Também apurei conflitos e desacordes da vida dele", afirmou.
Santos fez questão de citar que, para a história, este não é o ano do centenário de Grande Otelo e sim de Sebastião Bernardes, pois o personagem só se consolidou em 1935. Para ele, Grande Otelo é um produto cultural. "Foi uma forma que encontraram de comercializar uma arte. Um 'produto' que se faz aceitável e vendável. Existe um Sebastião que precisa ser resgatado. Eu estudo justamente isso, a criança, o adolescente, o político e o religioso que foi Sebastião", ressaltou.

Comemorações
Em homenagem ao centenário do artista, haverá neste domingo uma festa no Terreirão do Samba, em Uberlândia, a partir das 14h. O grupo de pagode Serelepe fará show no local a partir das 18h.

Segundo o secretário de Cultura, Gilberto Neves, as demais comemorações do ano do centenário serão em novembro, quando também se celebra o Dia da Consciência Negra. “Vamos fazer um evento musical no Teatro Municipal no dia 15 de novembro. Também estamos tentando transferir o Prêmio Grande Oleto, que foi aprovado em lei e passa a valer em 2016, para ser entregue também este ano. O prêmio valoriza artistas da nossa terra”, contou.
Neves ressaltou que no teatro também vai haver atividades artísticas e mostra de filmes do Grande Otelo. “Nós estamos fazendo toda a programação e a intenção é incluir uma exposição artística. Não podemos deixar a data passar em branco. Grande Otelo é muito importante para Uberlândia”, afirmou.
O secretário acrescentou que as comemorações também serão feitas em outras secretarias, como a de Educação. Segundo ele, haverá um seminário para discutir o centenário de Grande Otelo. O evento será realizado durante a Feira Literária da cidade, que ocorre de 15 a 20 de novembro. "Grande Otelo se tornou referência no Brasil e no mundo e, por ser de Uberlândia, mostra valores culturais significativos. É uma pessoa da comunidade negra, pobre e que chegou ao estrelato mundial. Ele superou muita coisa e precisamos comemorar esses 100 anos", destacou.
Teatro Grande Otelo
A restauração e reativação do Teatro Grande Otelo fazem parte do programa de governo do atual prefeito de Uberlândia, Gilmar Machado (PT). Contudo, o prédio foi interditado judicialmente e, na mesma ação civil pública representada pelo Ministério Público Estadual (MPE) em 2011, foi pedido que a arquitetura fosse preservada e o prédio tombado como patrimônio histórico.
Em abril deste ano, o juiz da 1ª Vara da Fazenda Pública, João Ecyr Mota Ferreira, julgou procedentes os pedidos do Ministério Público Estadual (MPE) e determinou o tombamento do Teatro Grande Otelo, em Uberlândia, além da restauração do imóvel. Desativado, o teatro se encontra com aspecto abandonado e apresenta pichações nas paredes.
O secretário de Cultura disse que o Município está em processo de captação de recursos para iniciar as obras no local. Ele afirmou que o governo de Minas se propôs a ajudar. "Fizemos um projeto que vai custar de R$ 6 milhões a 8 milhões. É um projeto de captação na Lei Rouanet. Por meio do governo Pimentel, uma empresa estatal topou entrar no financiamento. Agora é aguardar definições e o apoio para o dinheiro necessário", concluiu.
Linha do tempo

  • 1915 No dia 18 de outubro, nasce Sebastião Bernardes de Souza Prata, o Grande Otelo, na então São Pedro de Uberabinha, conhecida hoje como Uberlândia (MG)
  • 1923 Ainda criança, apresenta-se em um picadeiro de circo como Bastiãozinho, de braços dados com um palhaço
  • 1926 Estreia no teatro
    com Nhá Moça, em Campinas (SP)
  • 1927 Participa da Cia Negra de Revistas, que tinha Pixinguinha como maestro
  • 1932 Ganha o apelido “The great Otelo” de Jardel Jércolis, um dos pioneiros do teatro de revista. Com o tempo, o nome ganhou versão em português
  • 1938 Torna-se a estrela do Cassino da Urca
  • 1940 Até meados dos anos 1950, faz parcerias com Oscarito em comédias como Matar ou correr e Carnaval no fogo
  • 1942 Participa do filme It’s all true, de Orson Welles
  • 1943 Interpreta sua própria história no cinema: Moleque Tião
  • 1949 Uma tragédia abala sua vida: sua primeira mulher mata o filho menor e suicida-se
  • 1960 É contratado pela Rede Globo e participa de novelas de sucesso como Uma rosa com amor (1972) e Sinhá Moça (1986)
  • 1969 É lançado Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade, em que interpreta o papel-título
  • 1982 Participa de Fitzcarraldo, de Werner Herzog, filmado na Amazônia
  • 1990 Participa da Escolinha do professor Raimundo com o personagem Eustáquio. Eterniza o bordão ‘‘Aqui. Que queres?”
  • 1993 Morre de um ataque fulminante do coração em Paris, onde seria homenageado no Festival de Nantes
Entrevista no Roda Viva:


sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Rachel Sheherazade, que tanto defendeu Eduardo Cunha, está em silêncio

Postado no blog pramatismo político

Rachel Sheherazade já defendeu Eduardo Cunha fervorosamente, em vídeo e por escrito. Hoje, a jornalista mantém silêncio constrangedor sobre as investigações que revelaram as contas secretas do presidente da Câmara na Suíça. Para ela, os problemas do Brasil são os “marginaizinhos”, os homossexuais, o carnaval, a corrupção (seletiva), o funk, o bolivarianismo…

Eduardo Cunha se casou com uma jornalista da Globo nos anos 90. Hoje talvez se casasse com Rachel Sheherazade.
Um dos melhores vídeos do ano mostra uma defesa inflamada feita por ela a respeito de Cunha, ainda na época em que a Veja o lançava como o homem mais poderoso da república.
Depois de ver o vídeo [abaixo] fui tomado por uma certa curiosidade mórbida e resolvi entrar no perfil da moça no Facebook para ver se ela ainda morria de amores pelo quase ex-deputado.

Vasculhei a linha do tempo semanas e nada. As únicas menções a Cunha feitas por Sheherazade se referem aos pedidos de impeachment contra a presidente Dilma.
Entre uma crítica e outra ao bolivarianismo e defesas de que família só pode ser formada por pais heterossexuais, acusações contra Lula e seus filhos, e campanhas para que o filho de Jair Bolsonaro fosse eleito o melhor deputado do país (perdeu para Jean Wyllys), nenhuma palavra sobre os milhões na Suíça da família Cunha.
Pareceu-me um tanto assombroso que alguém que se diga jornalista consiga ignorar completamente o assunto mais comentado das últimas semanas.
Que alguém que publica diversos posts diários supostamente revoltada on line contra a corrupção, não se revolte em função da fartura de denúncias e provas apresentadas contra o presidente da Câmara.
Que jornalismo é esse que escolhe tão descaradamente pesos e medidas?
Que gente é essa que compartilha a indignação seletiva de Sheherazade e sequer a questiona sobre seu silêncio?
E Sheherazade tem mais de um milhão e meio de seguidores nas redes sociais. Sua relevância no debate político nacional se resume a isso.
São pessoas que precisam ser resgatadas.
São hoje reféns de supostos jornalistas como Sheherazade que há muito tempo abandonaram a profissão para servir a interesses políticos.
Jornalistas que não informam, não investigam, não questionam nada que não faça parte da própria agenda escolhida.
Que como comentaristas nada acrescentam, e encontrar ideias novas no discurso de Sheherazade é como procurar uma cachoeira no deserto.
Talvez por isso seu novo livro “O Brasil Tem Cura” já nasça morto. A vida é muito curta para você ler o que já sabe.
E quem não sabe que a doença do Brasil para Sheherazade são os “marginaizinhos”, os homossexuais, o carnaval, a esquerda, a corrupção (da esquerda), o funk, o bolivarianismo…
E que a cura é a repressão policial, os “valores”, a moral conservadora e o neoliberalismo.
Por isso o maior problema não são suas ideias, que mantêm a profundidade do senso comum mais hidrófobo. Mas o que ela representa para a profissão de jornalista.
É um perigo para a democracia que o ofício de um jornalista se confunda com o de relações públicas. E é isso o que Sheherazade representa, e deixa claro no caso de Eduardo Cunha, não necessariamente por amor.
Naturaliza-se assim que a pauta não é o interesse público, não são os fatos, mas a própria agenda, vendida a veículos que as pré-determinam.
George Orwell disse que jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique, todo o resto é publicidade.
Sheherazade só publica o que interessa a ela própria e seus patrões. E o pior é que seu público espera dela exatamente isso

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Baden Powell, o gênio das Cordas

Compositor e instrumentista, Baden Powell é ainda hoje considerado um dos maiores gênios e virtuoses que o violão mundial conheceu. Criador de um estilo próprio e inconfundível, deixou admiradores por todo o planeta, sem que ninguém conseguisse reproduzir sua maneira de tocar.
Baden Powell de Aquino nasceu em 6 de agosto de 1937 na cidade de Varre-Sai, estado do Rio de Janeiro, filho de Lilo de Aquino (conhecido como Tic) e de Adelina Gonçalves, a Neném. Tic era fabricante de calçados e músico amador: tocava violino nos bailes e tuba na banda da cidade, fundada por seu pai. Também era chefe dos escoteiros de Varre-Sai e admirador do fundador do escotismo, o britânico Robert Stephenson Smyth Baden Powell, daí a homenagem ao batizar o terceiro filho.
A família mudou-se para o Rio de Janeiro quando Baden Powell tinha três meses. Ali, ele passou sua infância, vendo o pai tocar violino em saraus, rodas de choro e serenatas. Gostava de pegar o violino do pai escondido para tirar sons e brincar com o instrumento. Começou a tocar violão em um instrumento “roubado” de uma tia. Teve aulas com o pai e, aos oito anos, tornou-se aluno de Jayme Florence, o famoso Meira, violonista do conjunto regional de Benedito Lacerda. Com dez anos, apresentou-se no programa Papel carbono, de Renato Murce, na Rádio Nacional, obtendo o primeiro lugar, interpretando Magoado, de Dilermando Reis. Com 11 anos, foi chamado para acompanhar Cyro Monteiro numa apresentação que o grande sambista faria numa igreja. Aos 13, terminou os estudos com Meira e inscreveu-se na Escola Nacional de Música do Rio de Janeiro.
No verão de 1950, participou do show Arraia miúda, promovido por Renato Murce no Teatro João Caetano, junto com duas meninas que, assim como ele, ainda não haviam completado 15 anos: Alaíde Costa e Claudette Soares. Nos anos 1950, conheceu seu primeiro parceiro musical, Maurício Vasquez, amigo do colégio, autor de poemas que Baden musicava para mostrar às meninas que desejava conquistar. Aos 15 anos, debutou, com seu violão elétrico, nos cabarés da Lapa e do Mangue, zona de meretrício carioca. Com 16, passou a se apresentar na Zona Sul, no famoso Clube da Chave, levado por Alaíde Costa. Em 23 de abril de 1954, participou do I Festival da Velha Guarda, em São Paulo, ao lado de Pixinguinha, Donga, João da Bahiana, Almirante, Benedito Lacerda, Caninha, Patrício Teixeira, Lúcio Rangel e Sérgio Porto.
Em 1955, ao lado de Ed Lincoln (piano) e Luiz Marinho (contrabaixo), apresentou-se na boate do Hotel Plaza, em Copacabana, ponto de encontro dos músicos da noite. No ano seguinte, foi assistido por dois grandes artistas internacionais que vieram se apresentar no Brasil: Nat “King” Cole e Dizzy Gillespie (com quem chegou a dar uma canja numa boate carioca). Nessa época, já gravava como violonista e guitarrista, requisitado por maestros e arranjadores como Guerra-Peixe, e tocava em quase todos os programas da Rádio Nacional. Com Sivuca, formou uma dupla que promovia bailes em casas de famílias ricas.
Foi apresentado por Cyll Farney a Billy Blanco. Do encontro, nasceu a primeira parceria, o clássico Samba triste, e uma grande amizade. Naqueles tempos pré-bossa nova, Baden aparecia com assiduidade nos apartamentos de Nara Leão, Bené Nunes, Lula Freire, Nilo Queiroz e dos irmãos Castro Neves, onde a turma se reunia para fazer uma música diferente e moderna. Participou do nascimento da bossa nova, acompanhando alguns dos principais nomes do estilo, mas nunca se apegou a gêneros: tocava de jazz a sambas, do clássico ao rock.
Em 1959, com 22 anos, contratado pela Philips, atuou em discos de Paulo Moura, Carlos Lyra, Elizeth Cardoso e do estreante Roberto Carlos. Em apenas dois dias, gravou seu primeiro disco solo, Apresentando Baden Powell e seu violão. Em 1960, tocou com Marlene Dietrich num espetáculo da grande diva no Rio de Janeiro. Neste mesmo ano, apresentou-se com um conjunto de dança na boate Arpège, no Leme, após um show de Ary Barroso e Tom Jobim. Na plateia, estava o poeta Vinicius de Moraes, que ficou impressionado com aquele jovem violonista. Após alguns desencontros, reencontrou-se com Vinicius no bar do Hotel Miramar. Baden mostrou duas melodias suas e assim surgiram as primeiras parcerias da dupla: Cantiga de ninar meu bem e Sonho de amor e paz. Passou a frequentar assiduamente o apartamento de Vinicius no Parque Guinle. Tornaram-se parceiros de uísque, farras, noitadas e, naturalmente, de músicas.

Em abril de 1960, participou dos festejos da inauguração de Brasília. Em 1961, gravou o segundo LP, Um violão na madrugada. No ano seguinte, lançou seu terceiro LP, o primeiro pela gravadora Elenco: Baden Powell swings with Jimmy Pratt. Viajou para os Estados Unidos, onde se apresentou no Ed Sullivan Show ao lado de João Gilberto, Tom Jobim, Milton Banana e Os Cariocas. De volta ao Brasil, gravou o segundo LP pela Elenco, Baden Powell à vontade. Em outubro de 1963, chegou às lojas o LP Vinicius & Odette Lara, o primeiro só com músicas da dupla Baden-Vinicius.
Em novembro, mesmo sem falar francês, mudou-se para Paris. Em dezembro, apresentou-se no Olympia, com a cortina abrindo e fechando oito vezes no final do espetáculo para a saudação de Baden ao público. No início de 1964, assinou contrato com a Barclay e recebeu um adiantamento para a gravação de seis LPs. O primeiro deles, Le monde musical de Baden Powell, de 1967, ganhou o Disco de Ouro na França, com mais de 100 mil cópias vendidas. Além desses LPs, gravaria outros sete álbuns pela francesa Musidisc.
Voltou ao Brasil em fevereiro de 1965. Em janeiro de 1966, Baden e Vinicius reuniram, num disco da gravadora Forma, oito músicas que compuseram entre 1962 e 1965. Com arranjos e regência de Guerra-Peixe e participação do Quarteto em Cy, o LP Os afro-sambas (termo cunhado por Vinicius) foi um marco da dupla.

No mesmo mês, entrou novamente em estúdio, ao lado do gaitista Maurício Einhorn, para gravar Tempo feliz, um de seus melhores discos. Em junho, fez em dois dias o LP Tristeza on guitar, para a gravadora Saba, da Alemanha. No ano seguinte, excursionou pela primeira vez por esse país, onde gravou (em 24 horas), também pela Saba, o álbum Poem on guitar.
Em 1968, Lapinha, defendida por Elis Regina e os Originais do Samba, seria a grande vencedora da I Bienal do Samba, promovida pela TV Record em São Paulo, em maio de 1968. Era a sua primeira parceria com Paulo César Pinheiro –, vizinho de um primo de Baden, o também violonista João de Aquino – que viria a ser seu segundo grande parceiro.
Nesse período, Baden fez seu primeiro grande show, O mundo musical de Baden Powell, no Teatro Opinião. Em agosto, apresentou-se em Buenos Aires com Vinicius, Dorival Caymmi, Oscar Castro Neves e Quarteto em Cy. Com Vinicius e a cantora Márcia, fez temporada em Lisboa, em dezembro. Em 1970, estreou o show É de lei, produzido por Miéle e Ronaldo Bôscoli, em que apresentou muitas parcerias com Paulo César Pinheiro. A dupla teve, além de quatro músicas gravadas por Elizeth Cardoso, suas composições registradas em dois discos: As músicas de Baden Powell e Paulo César Pinheiro e Os cantores da Lapinha. Neste mesmo ano, apresentou-se pela primeira vez em sua cidade natal, Varre-Sai, pela qual sempre teve muito carinho. No final de 1970, tocou pela primeira vez no Japão, ao lado de Thelonious Monk.

Ao lado de Elizeth Cardoso, fez, entre maio e agosto de 1973, uma temporada de sucesso no Canecão, da qual também participou o bandolinista Luperce Miranda. De volta à França, registrou no disco La grande réunion seu encontro com o violinista Stéphane Grappelli.
Em abril de 1978, nasceu seu primeiro filho, Philippe Baden Powell, fruto do casamento com Silvia Eugênia, sua terceira mulher. Nesse período, Baden deixou crescer o bigode, que nunca mais tirou, e começou a se vestir sistematicamente de branco. Além disso, ficou três anos sem beber. Em abril de 1982, nasceu o segundo filho, Louis-Marcel Powell de Aquino. Após várias idas e vindas entre Paris e o Rio de Janeiro, decidiu morar numa cidade mais tranquila. Permaneceu quatro anos com a família em uma cidade alemã cujo nome lhe era bastante familiar: Baden-Baden.

Durante a década de 1980, em parte por causa de seus problemas pessoais – afetivos e relacionados à bebida –, viu escassear o assédio das principais gravadoras e dos grandes teatros. Em 1988, iniciou os filhos na vida artística durante show no Jazzmania: Philippe, com dez anos, e Marcel, com seis, estrearam no palco tocando percussão, acompanhando o pai. Em 1990, regravou, em CD, Os afro-sambas, apresentando uma nova versão para os clássicos que compusera com Vinicius. Reescreveu os arranjos, assumiu a regência e os solos, tocou percussão e incluiu músicas que não constavam do álbum original: Labareda e Variações sobre Berimbau. Nos anos seguintes, fez shows pelo Brasil e pelo exterior e levou os filhos definitivamente para o palco. Baden passou a compor para (e com) os filhos e gravou um disco com eles em 1994.


Foi só em 1995 que tocou no aclamado Festival de Montreux, na Suíça. Em novembro deste ano, recebeu, no Canecão, o Prêmio Shell de Música Brasileira, a maior honraria conferida a ele por seus conterrâneos. Em 1999, viu sair, pela Editora 34, sua biografia O violão vadio de Baden Powell, escrita por Dominique Dreyfus. No ano 2000, gravou, pela Trama, o último disco, Lembranças, que acabou sendo lançado postumamente. Após ficar internado por um mês, Baden Powell faleceu na manhã do dia 26 de setembro de 2000, aos 63 anos, na Clínica Sorocaba, em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro.

Biografia retirada do sítio do Instituto Moreira Salles (http://www.ims.com.br)

sábado, 10 de outubro de 2015

Breves considerações sobre Seleção da CBF

Muito se tem discutido sobre a decadência da Seleção Brasileira. A humilhante derrota que o time que representa o Brasil  sofreu para Alemanha entrou para histórica do futebol. Em plena Copa no Brasil, no Mineirão, o  time brasileiro foi goleado fulminantemente pela seleção Germânica. 
Após a eliminação vergonhosa o técnico Luiz Felipe Scolari foi demitido. Scolari tinha sido contratado por ter no histórico o último título de Copa do Brasil. No já distante ano de 2002, contando com super craques como Ronaldo, Rivaldo, Roberto Carlos e um jovem Ronaldinho Gaúcho, o time comandado por Scolari, mais conhecido como Felipão, se sagrou campeão.
Posteriormente, Felipão cumulou uma série de fracassos por onde trabalhou. Perdeu uma Euro Copa com a seleção portuguesa contra a inexpressiva Grécia, teve desempenho pífio no poderoso Chelsea. Passou um tempo no semiprofissional futebol do Azerbaijão e depois trabalhou no Palmeiras, saindo às vésperas do seu melancólico rebaixamento. Como prêmio do rebaixamento do Palmeiras, foi contratado pela CBF para assumir a Seleção Brasileira.

Após o vexame no Mineirão, a Confederação Brasileira falou em reformular a seleção. Contratou com supervisor da mesma o ex goleiro Gilmar Rinaldi. O ex atleta, à muito se dedicava à negócios com jogadores de futebol. Foi empresário de vários jogadores, entre os mais famosos o centroavante Adriano Imperador. Muitos questionaram o fato de Gilmar ter interesses contraditórios com a da Seleção, visto que era até a véspera de assumir o cargo, era empresário de jogadores, lucrando com vendas e bons contratos, tendo assim claro interesse em ver seus clientes convocados pela Seleção. Nada disso foi levado em conta.
Para completar, conjuntamente com a direção da confederação, Rinaldi contratou para técnico o ex jogador e ex técnico da Seleção,  Dunga. Dunga foi um volante que ganhou notoriedade no futebol por ser jogador vigoroso, porém de recursos técnicos limitados. Na Copa da Itália, em 1990, a seleção ficou conhecida como a "Era Dunga". Dunga tinha dado nome a uma geração fracassada. Em 1994, o mesmo jogador foi capitão da Seleção que depois de 24 anos se sagraria campeão da Copa do Mundo. Ao receber a taça, o capitão xingou todos aqueles que o tinha criticado anos antes, mostrando toda sua carga de rancor. 
O tempo passou, Dunga aposentou e a Seleção Brasileira, contando com uma geração brilhante, com nomes como Ronaldo, Adriano, Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Robinho, Roberto Carlos, foi eliminada da Copa da Alemanha. Muitos críticos da época, em análise simplista e superficial, chegaram à conclusão que aquela seleção só perdeu a Copa porquê faltava liderança para o time, que Carlos Alberto Parreira, técnico na época, deixou o time muito à vontade.
Com isso, a CBF contratou o antigo capitão do Tetra, o citado ex volante Dunga. Pasmem, Dunga nunca tinha sido técnico. Não foi técnico nem de time amador e foi alçado à condição de técnico de uma das mais importantes seleções do mundo, por ter sido um jogador que de acordo com parte da imprensa esportiva, tinha liderança. A análise foi simples, se faltou liderança do técnico Parreira, o sisudo ex capitão do tetra poderia assumir o time. Não levaram em conta a falta de experiência do técnico, não levaram em conta questões táticas e muito menos o quanto a Confederação Brasileira tinha outros interesses diversos do futebol. Posteriormente, o até então presidente da CBF foi afastado por uma série de denúncias de corrupção.

Na Copa África, o time do técnico Dunga, em um jogo onde o time parecida bastante influenciados pelo temperamento enérgico do técnico, perdeu de virada para a seleção holandesa e foi eliminada. Dunga sempre mostrou destempero ao ser questionado por seu trabalho, chegando ao extremo de xingar um jornalista da Rede Globo com palavras de baixo calão.

Posteriormente à eliminação em 2010, o técnico seria demitido da CBF. Após essa demissão, foi contratado pelo time do Internacional de Porto Alegre, time onde foi jogador. Teve baixo desempenho sendo também demitido. Ficou desempregado até que seu ex colega de seleção, Gilmar Rinaldi, o contratasse novamente para assumir a Seleção Brasileira. Mesmo não tendo nenhum sucesso como técnico em nenhum time que comandou, voltou para o posto da seleção nacional.
Na Copa América realizada no último ano, foi desclassificado pelo pouco tradicional time do Paraguai. 
Na estreia da seleção na eliminatórias da Copa de 2018 perdeu para o time do Chile. Tal derrota, a primeira em uma estreia de eliminatórias causou muitas discussões sobre o futebol brasileiro. 
A derrocada da seleção é evidente. Muitos discute sobre a safra de jogadores, de esquemas táticos utilizado pelo técnico da seleção, mas pouco se fala da estrutura arcaica da CBF, atolada em escândalos de corrupção  e da escolhas de técnicos por critérios simplistas. A questão é muito mais profunda e complexa. 

domingo, 4 de outubro de 2015

Caetano Veloso - Transa

Caetano Veloso estava exilado em Londres. Longe do Brasil por força de uma ditadura militar, juntou uma banda excelente e gravou esse lendário disco. Com letras em inglês e em português, com músicas tradicionais sendo constantemente citadas, criou o que muitos entendem ser seu melhor álbum.

Foi o primeiro álbum em que tocou violão. Teve como destaque os lindos arranjos de Jards Macalé. Sua exuberante banda contava ainda com Áureo de Souza no baixo elétrico, Tuty Moreno na percussão e bateria e o já citado Jards Macalé destruindo no violão (seus solos são uns dos destaques do disco).
Foi lançado em 1972 e até hoje é reverenciado por músicos, críticos e apreciadores de uma boa música!