Noite na Taverna
Entre bons e maus sentimentos, navego pelo oceano
revolto de meus pensamentos. Um violão milenar conduz meu turbilhão de
pensamentos. Na taverna, no centro da América Latina me sinto no centro
do mundo.
África, mouros, ciganos, ibéricos, em plena pós
modernidade. O clássico transpõe as eras. O velho agoniza e padece. O
novo ainda não foi concebido. Não sei se pertenço ao novo ou ao velho.
Como a dançarina vertiginosa, meus pensamentos, confusos e vorazes,
pululam em minha mente sertaneja. Não me afogo na profundeza da arte. Me
sufoco na superfície.
Navios impulsionados por velas cruzaram oceanos.
As raízes ainda ligam as terras distantes. Mesmo feridas, submersas,
seus galhos ainda florescem trazendo para a copa a profundeza do solo.
O mundo gira muito rápido, tudo é muito fugaz
Do
sertão eu vejo o mundo. O mundo veio para o sertão. Do cerrado eu vejo a
briga de Dionísio com Apolo. Vejo a casa grande e a senzala. A guitarra
milenar continua a tocar, a chorar, a sangrar, como ponteia a viola no
sertão.
Oliveiras, parreiras, macaúbas e lobeiras,
mediterrâneo e Rio Paranaíba. Folias de Reis e baile mediterrâneo. Mais
vasto é o coração mineiro.
Os bandeirantes
rasgaram o sertão. Sangraram o sertão. Hoje sangram um país. Os
tropeiros estão em guerra. Os ventos do norte destroem moinhos.
Na taverna a dançarina gira com paixão. Os
marginais suspiram. Eu sempre estive na margem.
Sou cativo. Sou prisioneiro. Sou escravo dos meus pensamentos.
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