quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Chico - Artista Brasileiro #Donwload


Chico - Artista Brasileiro  #Donwload



Falar do brilho gigantesco de Chico Buarque é repetir inúmeros clichês. Não é necessário ressaltar a genialidade as virtudes desse gênio brasileiro. Assim, fazer um documentário sobre o referido artista e fugir do óbvio é um grande feito.
Miguel Faria Jr. conseguiu tal feito. O Documentário Chico - Artista Brasileiro traz para o espectador um retrato muito humano do mito Chico Buarque de Holanda. Talvez pelo fato do diretor ser amigo do compositor, conseguiu captar nuances pouco conhecidas.
É comovente o depoimento de Chico sobre seu casamento. Sem entrar em detalhes de sua intimidade reflete sobre a importância de Marieta Severo em sua vida e em sua família e discorre sobre a solidão. A parte em que recebe seus netos e com eles tocam e cantam é bastante cativante. É notório o carinho que Chico tem pelos netos!

Outra parte emocionante é a viagem de Chico à Alemanha, onde vê imagens pela primeira vez de seu irmão desconhecido. Chico fica bastante emocionado!
Tudo isso ainda embalado por canções de Chico, duas delas interpretadas por ele mesmo e outras por interpretes como Milton Nascimento, Ney Matogrosso, Adriana Calcanho, e outros mais. Todas regidas pela competente banda do maestro Luiz Cláudio Ramos, fiel músico que acompanha Chico à muitos anos.
Pena que em muitas cidades o filme não entrou em cartaz nos cinemas e não se pode ver na telona. Aqui em Uberlândia/MG não fomos agraciados com esse belo filme.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Tratamento distinto para duas Mirians: FHC negociou cala boca de dentro do Planalto, com empresa que tinha concessão em aeroportos

Tratamento distinto para duas Mirians: FHC negociou cala boca de dentro do Planalto, com empresa que tinha concessão em aeroportos

publicado em 18 de fevereiro de 2016 às 22:13 no www.viomundo.com.br
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Miriam Cordeiro, no programa eleitoral de Fernando Collor, também apareceu repetindo denúncias sem provas no Jornal Nacional;  o dia da despedida de FHC (ao lado de Ruth) e Mirian Dutra no Globo Repórter, em 1994,  uma de suas raras aparições como repórter em Portugal, depois do exílio
por Luiz Carlos Azenha
As últimas horas foram tragicômicas, pelo esforço dos fãs do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em desqualificar Mirian Dutra e o próprio debate que ela gerou ao dar entrevista para a revista Brazil com Z, da Espanha — mais tarde, acrescentou detalhes falando à Folha.
Isso, ainda que FHC tenta admitido a existência do contrato fictício da empresa Brasif.
Que eu tenha lido, disseram que ela recebeu dinheiro do PT para mentir, que é uma tentativa de tirar o foco do triplex e do sítio respectivamente visitado e frequentado por Lula, que ela age movida pelo ódio típico de uma ex. Num país machista como o Brasil, eu não estranharia nem se dissessem que Mirian seduziu FHC e enredou o pobre senador, 30 anos mais velho do que ela, numa armadilha com o objetivo de extorquí-lo continuamente.
Triste, né? FHC, um sociólogo que se dizia de esquerda e foi casado com a antropóloga Ruth Cardoso, defendido pela turma que culpa mulher pelo estupro.
Os dois — FHC e Mirian — tiveram um relacionamento duradouro, cujos detalhes são assunto estritamente privado. Mirian apresentou o seu lado da moeda e FHC está certo ao não travar um debate público sobre isso.
Podemos deixar a hipocrisia de lado?
Quantos homens e mulheres — de poder ou não — têm seus flings, casos, namorados, amantes e assim por diante?
Não foi um orgulho para os franceses o fato de o presidente François Miterrand ter sido enterrado na presença da mulher e da amante?
Hillary Clinton, nos Estados Unidos, um símbolo feminista para parte do eleitorado, não engoliu as patéticas escapadas do Bill para preservar sua própria carreira política? Quem somos nós para julgar?
Porém, não me parece “assunto pessoal” quando um homem poderoso, um senador que tem ao seu lado o PIB e a mídia do Brasil, decide comprar o silêncio de uma ex-namorada.
Mirian decidiu ter o filho (pouco importa de quem).
Vocês já se colocaram no papel dela, uma jornalista que estava prestes a ter o segundo filho? Que mãe não sacrificaria sua vida pessoal — que foi o que ela fez — para ter condições de dar o melhor aos filhos? Enquanto isso, FHC preservou sua carreira!
Espantoso, na verdade, é a conspiração de silêncio que, em nome da candidatura de FHC ao Planalto, ocorreu. Com a conivência pessoal e, pior, institucional, daqueles que mais tarde se beneficiariam das políticas de FHC.
Mirian denunciou que foi levada a dar uma entrevista falsa à revista Veja. E ela não mentiu. Leiam que coisa patética a nota publicada pela coluna Gente da revista Veja, segundo a jornalista engendrada por FHC com o diretor da VejaMário Sergio Conti, aquele que “entrevistou” o Felipão:
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Sim, sim, eu sei: Mirian poderia ter se negado a mentir. Mas, com uma filha de 8 anos — e grávida — quem era a parte frágil na história?
A Globo divulgou hoje, no Jornal Hoje, uma nota:
A TV Globo não interfere na vida privada de seus colaboradores. Esclarece, porém, que jamais foi avisada por Miriam Dutra sobre o contrato fictício de trabalho e que, se informada, condenaria a prática. A emissora informa ainda que em junho de 2004 (e não em 2002) o contrato de colaboradora de Miriam Dutra foi alterado, com mudanças em suas atribuições, o que acarretou nova remuneração, tudo segundo a lei vigente no país em que trabalhava. Por último, a TV Globo jamais foi informada por Miriam Dutra sobre seu desejo de regressar ao Brasil. Ao contrário, ela sempre manifestou o interesse de permanecer no exterior. Durante os anos em que colaborou com a TV Globo, Miriam Dutra sempre cumpriu suas tarefas com competência e profissionalismo.
Tudo, de fato, é discutível, menos a afirmação de que a empresa “não interfere na vida privada de seus colaboradores”.
Sem mais, nem menos, Mirian foi despachada para Portugal? Ela assume que pediu a transferência, mas a Globo não sabia o motivo?
Não faz sentido a emissora abrir mão de uma repórter em Brasília e continuar pagando o salário dela sem que ela ralasse tanto quanto os outros correspondentes. Isso não existe!
Depois, Mirian foi transferida para Barcelona, segundo Palmério Dória por influencia de Alberico Souza Cruz, o todo-poderoso do jornalismo da Globo na época.
Mas, vamos combinar? A Globo NUNCA teve escritório, nem correspondente na Espanha. Criou um, de repente, para acomodar Mirian? Pagou a ela 7 mil dólares mensais de salário até 2004 (na versão da Globo) sem que ela tivesse uma presença constante, quase diária, no ar?
Eu fui correspondente da Globo em Nova York. Todo dia tinha trabalho, muito trabalho.
Palmério Dória, em artigo anterior, já havia estimado o “custo do exílio”:
FHC, quando era ministro da Fazenda, isentou de CPMF todos os meios de comunicação. Em 2000 houve o Proer da mídia, que custou entre US$ 3 e US$ 6 bilhões aos cofres públicos. Ele também mudou a Constituição para permitir que a mídia brasileira, então falida, pudesse contar com 30% de capital estrangeiro. E autorizou que o BNDES fizesse um empréstimo milionário à Globo.
Sobre abortos: sim, é um assunto pessoal.
Mas, que fique o registro: muita gente da classe média para cima torce o nariz para o tema por causa da culpa de ter feito ou bancado o aborto alheio. Enquanto isso, mulheres pobres morrem por causa da hipocrisia dos que falsamente se dizem engajados em “preservar a família”.
FHC nunca foi hipócrita neste assunto. Ele perdeu uma eleição para prefeito de São Paulo para o carola Jânio Quadros entre outros motivos por não dizer claramente, em um debate, que acreditava em Deus. Se fez algo incomum em campanhas, como montar num jegue e dizer que tinha “um pé na cozinha”, não foi muito além do que fazem outros políticos para ganhar votos.
O mesmo, no entanto, não se aplica à hipocrisia da Globo.
Em 1989, Roberto Marinho apoiou abertamente a candidatura de Fernando Collor de Mello contra Lula. Dedicou até um Globo Repórter ao “caçador de marajás”.
Na reta final, Miriam Cordeiro apareceu na propaganda oficial de Collor, acusando Lula — que na época do namoro não era casado — de ter pedido a ela que abortasse a filha Lurian e sugerindo que o candidato do PT era racista (ver vídeo abaixo).
No dia seguinte, o Jornal Nacional “repercutiu” o assunto, ou seja, deu asas a um tema que favorecia Collor, ainda que com a suspeita de que o depoimento tivesse sido comprado. Na descrição da própria Globo:
No Jornal Nacional do dia seguinte, os dois lados foram ouvidos. A jornalista Maria Helena Amaral, ex-assessora de Collor, denunciou que Miriam Cordeiro havia recebido dinheiro do PRN para aparecer no programa eleitoral do partido. Mas a ex-namorada de Lula disse que participou do programa espontaneamente e confirmou as denúncias contra o candidato do PT.
Uma forma tinhosa de promover o assunto com “equilíbrio”.
Miriam Cordeiro negou ter recebido 200 mil cruzeiros novos para fazer a denúncia, mas confirmou ao jornalista Luiz Maklouf Carvalho que estava por conta da campanha de Collor, 45 dias depois dele ter sido eleito!
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A Globo ainda defendeu, em editorial deO Globo, no dia do debate final entre Collor e Lula, que os brasileiros tinham o direito de saber detalhes da vida pessoal dos candidatos.

O jornal dos Marinho apresentou Collor, que usara o depoimento de Miriam Cordeiro no programa eleitoral, como vítima de Lula!
Confiram um trecho:
Nos Estados Unidos, por exemplo, com freqüência homens públicos vêem truncada a carreira pela revelação de fatos desabonadores do seu comportamento privado. Não raro, a simples divulgação de tais fatos os dissuade de continuarem a pleitear a preferência do eleitor. Um nebuloso acidente de carro em que morreu uma secretária que o acompanhava barrou, provavelmente para sempre, a brilhante caminhada do senador Ted Kennedy para a Casa Branca – para lembrar apenas o mais escandaloso desses tropeços. Coisa parecida aconteceu com o senador Gary Hart; por divulgar-se uma relação que comprometia o seu casamento, ele nem sequer pôde apresentar-se à Convenção do Partido Democrata, na última eleição americana. Na presente campanha, ninguém negará que, em todo o seu desenrolar, houve uma obsessiva preocupação dos responsáveis pelo programa do horário eleitoral gratuito da Frente Brasil Popular de esquadrinhar o passado do candidato Fernando Collor de Mello. Não apenas a sua atividade anterior em cargos públicos, mas sua infância e adolescência, suas relações de família, seus casamentos, suas amizades. Presume-se que tenham divulgado tudo de que dispunham a respeito. O adversário vinha agindo de modo diferente. A estratégia dos propagandistas de Collor não incluía a intromissão no passado de Luís Inácio Lula da Silva nem como líder sindical nem muito menos remontou aos seus tempos de operário-torneiro, tão insistentemente lembrados pelo candidato do PT. Até que anteontem à noite surgiu nas telas, no horário do PRN, a figura da ex-mulher de Lula, Miriam Cordeiro, acusando o candidato de ter tentado induzi-la a abortar uma  criança filha de ambos, para isso oferecendo-lhe dinheiro, e também de alimentar preconceitos contra a raça negra.
Um salto de 1989 para 2012.
A vida privada de Lula foi considerada “noticiável” pela revista Época, dos irmãos Marinho, que escalou sete repórteres — SETE! — para fazer uma denúncia baseada em suposições.
Rosemary de Noronha nunca assumiu ter tido um caso com Lula, nem divulgou documentos comprometedores. Ainda assim, virou notícia em toda a mídia!

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Voltem comigo, agora, no tempo.
Vejam como FHC descreveu o dia em que deixou o poder, em 2003, numa entrevista a Mário Sabino, daVeja:
Depois da cerimônia, rumamos, eu e Ruth, para o aeroporto, onde muita gente amiga nos esperava para a despedida. Foi aí que a emoção mais pessoal começou. Abracei assessores que haviam trabalhado comigo durante oito anos seguidos, que faziam parte do meu cotidiano. Embarcamos, então, para São Paulo, ainda no avião presidencial. Ao chegar, troquei de roupa e seguimos para o avião comercial que nos levaria a Paris. Nesse momento, relaxei, tive uma sensação boa de dever cumprido – tanto no plano institucional como no individual. (…) Dormi, então, a minha primeira noite de mortal comum. No dia seguinte, eu e Ruth fomos a Chartres sozinhos, para visitar a esplêndida catedral gótica – um passeio maravilhoso em todos os aspectos, mas principalmente pelo fato de não estarmos mais acompanhados de comitiva, seguranças e repórteres.  Recuperei, enfim, minha privacidade. Em Paris, também dispensei os serviços que a embaixada queria me prestar e voltamos a andar de metrô, como sempre fizemos. Uma delícia – e com um efeito muito didático. Porque uma coisa é o Planalto; outra é a planície. Na planície, você é promovido a povo.
Ou seja, FHC aproveitava Paris na condição de “povo”, acreditando ter um filho — um filho! — exilado na Europa.
A essa altura, Mirian era bancada pelo salário da Globo.
Mais tarde, conta, precisou de um complemento, pago por um empresário.
O empresário a que Mirian Dutra se refere é Jonas Barcellos, que mais recentemente deu caronas em seu avião para Lula — e foi denunciado por isso.
Numa entrevista à revista Veja, publicada em abril de 1999, Jonas admitiu que seus amigos eram “um ativo oculto”.
Dentre eles, Jorge Bornhausen, que foi vice-presidente da Brasif e comandou o PFL durante o governo FHC.
Segundo Mirian Dutra, o pefelista Antonio Carlos Magalhães, aliado de Bornhausen, ligado à Globo e todo-poderoso nos bastidores do governo FHC, recomendou a ela que não voltasse ao Brasil.
Conhecendo os bastidores do poder como ela, Mirian, conhecia — tinha sido repórter de política em Brasília –, como enfrentar um presidente da República, a emissora mais poderosa do Brasil — que dava a ela um salário  — e o trator ACM, ainda mais tendo dois filhos para criar?
O fato documentado e inescapável é o seguinte: FHC acreditava ter tido um filho com Mirian, que por sua vez assinou um contrato de fachada com a Eurotrade/Brasif para receber pagamentos via paraíso fiscal.
FHC disse a ela que era dinheiro pessoal, dele. Foi remetido do Brasil, via Banco Central? Ou saiu de uma conta no Exterior? A conta, que ele admite ter em Madri, foi declarada ao imposto de renda?
O documento divulgado por Mirian reforça a versão segundo a qual um presidente da República, no exercício do poder, negociou com uma empresa que detinha uma concessão do governo, a Brasif, o pagamento de um salário falso para a ex-namorada. Um cala-boca.
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O contrato entre Mirian Dutra e a Eurotrade/Brasif foi assinado no dia 16 de dezembro de 2002.
Faltavam duas semanas para o presidente FHC deixar o Planalto.
Se a versão de Mirian é verdadeira, FHC teve de pedir o favor a Jonas Barcellos, o dono da Brasif, algum tempoantes de o contrato ter sido assinado.
Com um detalhe importante,mencionado pelo Luís Nassif: os negócios de Jonas Barcellos floresceram nos dois mandatos de FHC.
Por muito menos, Bill Clinton quase sofreu impeachment nos Estados Unidos.
Como o caso de Mirian Dutra só aflorou agora, mais de 25 anos depois do namoro, obviamente não terá impacto retroativo.
O fato é que, com a ajuda da Globo, uma das Mirians derrotou Lula em 1989; e, com a omissão e/ou acobertamento da Globo — e da mídia em geral — FHC se elegeu presidente em 1994.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Chomsky: Este é o momento mais crítico na história da humanidade

Enviado por José Carlos Lima
Do Esquerda.net


Numa longa conversa, Chomsky analisa as principais tendências do cenário internacional, critica a escalada militarista do seu país e afirma que as alterações climáticas é o pior problema que a humanidade já enfrentou. Por Agustín Fernández Gabard e Raúl Zibechi
“Os Estados Unidos foram sempre uma sociedade colonizadora. Ainda antes de se constituir como Estado estava a eliminar a população indígena, o que significou a destruição de muitas nações originais”, sintetiza o linguista e ativista norte-americano Noam Chomsky quando se lhe pede que descreva a situação política mundial. Crítico acérrimo da política externa do seu país, argumenta que desde 1898 se virou para o cenário internacional com o controle de Cuba, “que converteu essencialmente em colónia”, para depois invadir as Filipinas, “assassinando um par de centenas de milhares de pessoas”.
Continua a alinhavar uma espécie de contra-história do império: “Depois roubou o Hawai à sua população original, 50 anos antes de incorporá-la como mais um estado”. Imediatamente depois da segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos converteram-se em potência internacional, “com um poder sem precedente na história, um incomparável sistema de segurança, controlava o hemisfério ocidental e os dois oceanos, e naturalmente traçou planos para tentar organizar o mundo de acordo com os seus desejos”.
Concorda que o poder da superpotência diminuiu em relação ao que tinha em 1950, o pico do seu poder, quando acumulava 50 por cento do produto interno bruto mundial, que agora caiu para 25 por cento. Ainda assim, parece-lhe necessário recordar que os Estados Unidos continuam a ser “o país mais rico e poderoso do mundo, e a nível militar é incomparável”.
Um sistema de partido único
Há algum tempo Chomsky comparou as votações no seu país com a escolha de uma marca de pasta de dentes num supermercado. “O nosso é um país de um só partido político, o partido da empresa e dos negócios, com duas fações, democratas e republicanos”, proclama. Mas acha que já não é possível continuar a falar de duas velhas comunidades políticas, já que as suas tradições sofreram uma mutação completa durante o período neoliberal.
“São os republicanos modernos que se fazem chamar democratas, enquanto a antiga organização republicana ficou fora do espectro, porque ambas as partes se deslocaram para a direita durante o período neoliberal, tal como aconteceu na Europa”. O resultado é que os novos democratas de Hillary Clinton adotaram o programa dos velhos republicanos, enquanto estes foram completamente tomados pelos neoconservadores. “Se você vir os espetáculos televisivos onde dizem debater, só gritam uns com os outros e as poucas políticas que apresentam são aterradoras”.
Por exemplo, ele aponta que todos os candidatos republicanos negam o aquecimento global ou são céticos, que apesar de não o negarem dizem que os governos não devem fazer algo sobre isso. “No entanto, o aquecimento global é o pior problema que a espécie humana jamais enfrentou, e estamos a dirigir-nos para um desastre completo”. Na sua opinião, as alterações climáticas têm efeitos só comparáveis com a guerra nuclear. Pior ainda, “os republicanos querem aumentar o uso de combustíveis fósseis. Não estamos perante um problema de centenas de anos, mas de uma ou duas gerações”.
A negação da realidade, que carateriza os neoconservadores, corresponde a uma lógica semelhante à que impulsiona a construção de um muro na fronteira com o México. “Essas pessoas que tentamos afastar são as que fogem da destruição causada pelas políticas norte-americanas”.
“Em Boston, onde vivo, há um par de dias o governo de Obama deportou um guatemalteco que viveu aqui durante 25 anos; tinha uma família, uma empresa, era parte da comunidade. Tinha escapado da Guatemala destruída durante a administração Reagan. Em resposta, a ideia é construir um muro para proteger-nos. Na Europa é o mesmo. Quando vemos que milhões de pessoas a fugir da Líbia e da Síria para a Europa, temos que nos interrogar sobre o que aconteceu nos últimos 300 anos para chegarmos a isto”.
Invasões e alterações climáticas retroalimentam-se
Há apenas 15 anos não existia o tipo de conflito que observamos hoje no Médio Oriente. “É consequência da invasão norte-americana do Iraque, que é o pior crime do século. A invasão britânica-norte-americana teve consequências horríveis, destruíram o Iraque, que agora é classificado como o país mais infeliz do mundo, porque a invasão tirou a vida a centenas de milhares de pessoas e criou milhões de refugiados, que não foram acolhidos pelos Estados Unidos e tiveram que ser recebidos pelos países vizinhos pobres, os quais foram encarregados de recolher as ruínas do que nós destruímos. E o pior de tudo é que instigaram um conflito entre sunitas e xiítas que não existia antes”.
As palavras de Chomsky recordam a destruição da Jugoslávia durante a década de 1990, instigada pelo Ocidente. Destaca que, tal como Sarajevo, Bagdade era uma cidade integrada, onde os diversos grupos culturais compartilhavam os mesmos bairros, se casavam com membros de diferentes grupos étnicos e religiões. “A invasão e as atrocidades que se seguiram instigaram a criação de uma monstruosidade chamada Estado Islâmico, que nasce com financiamento saudita, um dos nossos principais aliados no mundo”.
 
Um dos maiores crimes foi, em sua opinião, a destruição de grande parte do sistema agrícola sírio, que assegurava a alimentação, o que levou milhares de pessoas para as cidades, “criando tensões e conflitos que explodem mal começa a repressão”.
 
Uma das suas hipóteses mais interessantes consiste em cruzar os efeitos das intervenções armadas do Pentágono com as consequências do aquecimento global.
 
Na guerra no Darfur (Sudão), por exemplo, os interesses das potências convergem com a desertificação que expulsa populações inteiras das zonas agrícolas, o que agrava e agudiza os conflitos. “Estas situações desembocam em crises horríveis, como acontece na Síria, onde se regista a maior seca da sua história que destruiu grande parte do sistema agrícola, gerando deslocações, exacerbando tensões e conflitos”, reflete.
Ainda não temos pensado profundamente, destaca, sobre o que implica esta negação do aquecimento global e os planos a longo prazo que os republicanos pretendem acelerar: “Se o nível do mar continua a subir e sobe mais rapidamente, vai engolir países como o Bangladesh, afetando centenas de milhões de pessoas. Os glaciares do Himalaia derretem-se rapidamente pondo em risco o abastecimento de água ao sul da Ásia. Que vai acontecer a esses milhares de milhões de pessoas? As consequências iminentes são horrendas, este é o momento mais importante na história da humanidade”.
Chomsky acredita que estamos perante uma curva da história em que os seres humanos têm que decidir se querem viver ou morrer: “Digo-o literalmente. Não vamos morrer todos, mas destruir-se-iam as possibilidades de vida digna, e temos uma organização chamada Partido Republicano que quer acelerar o aquecimento global. Não exagero - remata– é exatamente o que querem fazer”.
A seguir, cita o Boletim de Cientistas Atómicos e o seu Relógio do Apocalipse, para recordar que os especialistas sustentam que na Conferência de Paris sobre o aquecimento global era impossível conseguir um tratado vinculante, apenas acordos voluntários. “Porquê? Porque os republicanos não o aceitariam. Bloquearam a possibilidade de um tratado vinculante que poderia ter feito algo para impedir esta tragédia em massa e iminente, uma tragédia como nunca existiu na história da humanidade. É disso que estamos a falar, não são coisas de importância menor”.
Guerra nuclear, possibilidade certa
Chomsky não é das pessoas que se deixam impressionar por modas académicas ou intelectuais; o seu raciocínio radical e sereno procura evitar furores e, talvez por isso, mostra-se avesso a aceitar a anunciada decadência do império. “Tem 800 bases em todo o mundo e investe no seu exército tanto como todo o resto do mundo. Ninguém tem algo assim, com soldados a combater em todas as partes do mundo. A China tem uma política principalmente defensiva, não possui um grande programa nuclear, ainda que possa crescer”.
O caso de Rússia é diferente. É a principal pedra no sapato da dominação do Pentágono, “porque tem um sistema militar enorme”. O problema é que tanto a Rússia como os Estados Unidos estão a ampliar os seus sistemas militares, “ambos estão a atuar como se a guerra fosse possível, o que é uma loucura coletiva”. Pensa que a guerra nuclear é irracional e que só poderia acontecer em caso de acidente ou erro humano. No entanto, coincide com William Perry, ex-secretário da Defesa, que disse recentemente que a ameaça de uma guerra nuclear é hoje maior do que era durante a guerra fria. Chomsky considera que o risco se concentra na proliferação de incidentes que envolvem forças armadas de potências nucleares.
“A guerra esteve muito próxima inúmeras vezes”, admite. Um dos seus exemplos favoritos é o que aconteceu durante o governo de Ronald Reagan, quando o Pentágono decidiu pôr a prova a defesa russa mediante a simulação de ataques contra a União Soviética.
“Resultou que os russos levaram isso muito a sério. Em 1983, depois de os soviéticos automatizarem os seus sistemas de defesa detetaram um ataque de míssil norte-americano. Nestes casos o protocolo é ir diretamente ao alto comando e lançar um contra-ataque. Havia uma pessoa que tinha que transmitir essa informação, Stanislav Petrov, mas decidiu que era um falso alarme. Graças a isso estamos aqui a falar”.
Aponta que os sistemas de defesa dos Estados Unidos têm erros sérios e há umas semanas foi divulgado um caso de 1979, quando se detetou um ataque em massa com mísseis a partir da Rússia. Quando o conselheiro de Segurança Nacional, Zbigniew Brzezinski, estava a levantar o telefone para chamar o presidente James Carter e lançar um ataque de represália, chegou a informação de que se tratava de um falso alarme. “Há dezenas de falsos alarmes em cada ano”, assegura.
Neste momento as provocações dos Estados Unidos são constantes. “A NATO está a realizar manobras militares a 200 metros da fronteira russa com a Estónia. Nós não toleraríamos algo assim que acontecesse no México”.
O caso mais recente foi o abate de um caça russo que estava a bombardear forças jihadistas na Síria em fins de novembro. “Há uma parte da Turquia quase rodeada por território sírio e o bombardeiro russo voou através dessa zona durante 17 segundos, e derrubaram-no. Uma grande provocação que felizmente não foi respondida pela força, mas levaram o seu mais avançado sistema antiaéreo para a região, o que lhes permite derrubar aviões da NATO”. Argumenta que factos semelhantes estão a acontecer diariamente no mar da China.
A impressão que emerge dos seus gestos e reflexões é que se as potências que são agredidas pelos Estados Unidos atuassem com a mesma irresponsabilidade que Washington, o destino estaria traçado.
Entrevista com Noam Chomsky, por Agustín Fernández Gabard e Raúl Zibechi, publicada no jornal La Jornada em 7 de fevereiro de 2016. Tradução de Carlos Santos para esquerda.net

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Crosby Stills Nash & Young - 4 Way Street - Download


Crosby Stills Nash & Young - 4 Way Street - Download 


Por Ben Ami Scopinho

(http://www.collectorsroom.com.br/2011/08/discos-fundamentais-crosby-stills-nash.html)





Parece ser um consenso o fato de a década de 1970 ter gerado os mais marcantes registros ao vivo desde os primórdios do rock. E nesta considerável e ilustre lista também figura 4 Way Street, o primeiro registro 'live' do Crosby, Stills, Nash & Young, lançado há quatro décadas. Considerando o passado de cada um de seus integrantes – David Crosby veio do The Byrds, Stephen Stills e Neil Young passaram pelo quixotesco Buffalo Springfield e Graham Nash foi do pop britânico The Hollies – nada mais natural que este seja considerado como o primeiro supergrupo de folk rock da história.




A realidade é que tudo começou com um trio debutando com o auto-intitulado Crosby, Stills & Nash em 1969, pela Atlantic Records, e que vingou os hits "Marrakesh Express" e "Suite: Judy Blue Eyes", fazendo com que o disco atingisse a marca de quatro milhões de cópias vendidas e empurrasse a banda ao estrelato. Mas, para que uma turnê realmente desse certo, eles precisavam de mais um músico, e é aí que entra o temperamental Neil Young, que aceitou participar do grupo se este não entrasse em conflito com sua carreira solo, que já contava com a simpatia de muitos na ocasião.




Assim, com quatro guitarristas que também eram cantores (ou vice-versa?), o agora rebatizado Crosby, Stills, Nash & Young lançou Déjà Vu em 1970. E, diante do talento e energia criativa do quarteto, emplacaram canções do porte de "Our House", "Teach Your Children" e "Woodstock" (cover de Joni Mitchell), fazendo com que o disco vendesse 7 milhões de cópias e saltasse para o topo das paradas de sucesso, onde permaneceu por vários anos.





Com toda essa repercussão positiva, foi natural que a Atlantic organizasse uma turnê para atender ao desejo do público em ver estas feras tocando pelos EUA. E foi desta série de apresentações que surgiu o álbum 4 Way Street, cujas canções foram captadas dos shows que aconteceram entre os meses junho e julho de 1970 no Fillmore East (Nova York), Chicago Auditorium (Chicago) e The Forum (Los Angeles).


Chegando às lojas em 1971 no formato vinil duplo, 4 Way Street apresentava como novidade o fato de um disco ser acústico e o outro, elétrico. Todo o espaço interno do projeto gráfico foi preenchido com uma foto preto e branco, gigantesca, onde Crosby, Stills, Nash e Young aparecem sentados em um vestiário, e dois deles curiosamente emoldurados por um cabide de arame. As tradicionais informações foram banidas da contracapa, concentrando-se nos encartes internos que embalavam os discos, inclusive com as letras das canções, algo relativamente raro em se tratando de discos ao vivo.

O repertório, como era de se esperar, não trazia apenas as músicas dos já citados dois álbuns de estúdio. Mais da metade do material veio das bandas anteriores ou dos trabalhos solo do quarteto, e incluíram também composições até então inéditas como “Chicago” e "Right Between the Eyes", de Graham Nash, além de “The Lee Shore” e a polêmica "Triad", composta em 1967 por David Crosby e destinada ao The Byrds, que a recusou pela temática hedonista e claramente hippie: ‘ménage à trois’ – quem a acabou gravando o Jefferson Airplane no disco Crown of Creation, de 1968.

Apesar da decisão em mutilar tão grotescamente a abertura “Suite: Judy Blue Eyes”, deduzindo-a a meros 30 segundos (o argumento foi que a banda não queria outra versão deste single invadindo novamente as rádios dos EUA), a audição flui de forma maravilhosa. Não há como não ser atraído para as versões de “Southern Man" e "Carry On", com Neil Young e Stephen Stills alimentando-se um do outro e proporcionando longos devaneios que se estendem por até treze minutos, uma prática comum na época.

E, quer admitam ou não, tudo é executado de forma um tanto quanto áspera e, porque não dizer, quase desleixada, características mais evidentes no disco dois, o elétrico. Mas, por outro lado, é exatamente essa carência de artifícios de estúdio que permite a apreciação dos vários erros que aparecem regularmente. Ou seja, um real disco ao vivo, como tem que ser.


Já em um contexto histórico um pouco mais profundo, vale lembrar que este trabalho surgiu na conturbada esteira do final da década de 60 e início da 70, em meio aos tumultos raciais que assolavam alguns estados norte-americanos, os famosos distúrbios em inúmeras universidades, Guerra do Vietnã e outras agruras em que os EUA estavam atolados. Parte da geração hippie, que tanto ansiava por uma real filosofia voltada à paz e amor no cotidiano dos povos, simplesmente renegou este disco, pois, com exceção de algumas faixas como “Chicago”, “America's Children” e “Ohio”, o fato é que não há grande interesse por temas políticos por aqui.


De qualquer forma, esses fissurados pela Era de Aquário eram a minoria entre o público. Tanto que, além da abrangência dos temas, é inegável que foi a inspiração e, principalmente, todo o alto astral e empatia entre banda e público presentes neste registro que ajudaram a elevar os nomes Crosby, Stills, Nash e Young ao status de ícones, permanecendo na memória não só dos norte-americanos, mas também dos amantes do gênero em inúmeras outras nações. Um exemplo? Atentem para o comecinho de “Right Between the Eyes”, onde a brincadeira faz com que a plateia gargalhe entusiasmadamente e contagie até mesmo quem está escutando o disco.


Infelizmente, por trás de toda a genialidade residia uma insistente tensão, em especial entre Stephen Stills e Neil Young, a tal ponto de os músicos perderem toda a compostura e saírem no braço por vários dos vestiários em que iam parando. Esses atritos já começaram antes mesmo da excursão e somente aumentaram com o passar dos meses; os egos que não cediam espaço acumulavam cada vez mais atritos e a alternativa mais saudável foi a dissolução do Crosby, Stills, Nash & Young logo após 4 Way Street ter sido lançado.


Ainda que cada um desses músicos tivesse mantido uma trajetória relevante pelos anos seguintes, uma nova reunião envolvendo Crosby, Stills e Nash aconteceu em 1977, onde liberaram CSN – mas o recluso Neil Young optou por não fazer parte desta segunda tentativa de tocar com os ex-companheiros. Mas essas são histórias para outra ocasião.


Como complemento, 4 Way Street ganhou uma nova versão em meados de 1992, onde cada músico acrescentou outra faixa de sua autoria ao repertório. Nash revisitou o The Hollies com o single "King Midas in Reverse", de 1967; Crosby ofereceu "Laughing"; Stills veio com "Black Queen" e Young destilou um medley de “The Loner”, “Cinnamon Girl” e “Down by the River". Mas nada de a tal “Suite: Judy Blue Eyes” aparecer na íntegra ...


E, para finalizar estas linhas, vale mencionar que 4 Way Street também chegou ao primeiro posto das paradas de sucesso norte-americanas, vendendo nada menos do que meras quatro milhões de cópias. Multiplatinado! Permanece firme e forte após quarenta anos de seu lançamento e é uma essencial declaração musical aos colecionadores, independente das subdivisões em que o rock and roll se espalhou nas últimas décadas.


Formação:
David Crosby - voz e guitarra
Stephen Stills - voz, guitarra e teclado
Graham Nash - voz, guitarra e teclado
Neil Young - voz, guitarra, harmônica e teclado
Calvin ‘Fuzzy’ Samuels - baixo
Johnny Barbata - bateria

Crosby, Stills, Nash & Young - 4 Way Street
(1971 / Atlantic Records)

Side 1 (acústico)
1. Suite: Judy Blue Eyes (Stephen Stills)
2. On The Way Home (Neil Young)
3. Teach Your Children (Graham Nash)
4. Triad (David Crosby)
5. The Lee Shore (Crosby)
6. Chicago (Nash)

Side 2 (acústico)
7. Right Between The Eyes (Nash)
8. Cowgirl In The Sand (Young)
9. Don't Let It Bring You Down (Young)
10. 49 Bye-Byes / For What It's Worth / America's Children (Stills)
11. Love The One You're With (Stills)

Side 3 (elétrico)
12. Pre-Road Downs (Nash)
13. Long Time Gone (Crosby)
14. Southern Man (Young)

Side 4 (elétrico)
15. Ohio (Young)
16. Carry On (Stills)
17. Find The Cost Of Freedom (Stills)