Nos grandes meios de comunicação, todos acontecimentos negativos são automaticamente reputados à dupla Lula/Dilma. Do asfalto do município à crise da Grécia. De uma suposta decadência nos valores, até à todos os atos de corrupção nacional, parece piada, mas não é.
Essa situação me faz lembrar ao belo filme francês, da Diretora Julie Gravas (filha do também diretor Costa Gravas), que narra a história de Anna (Nina Kervel-Bey), que acredita que todos os seus problemas são culpa de Fidel Castro.
Vejam o texto do Luiz Carlos Azenha, do ótimo Vi o mundo:
Lula faz piada, mas comentário de Sardenberg sobre a Grécia mais parece terrorismo midiático
publicado em 07 de julho de 2015 às 23:39
O ex-presidente Lula brincou publicando a montagem ao lado, mas Sardenberg usou uma concessão pública para tocar terror
por Luiz Carlos Azenha
Carlos Alberto Sardenberg tem acesso diário a milhões de ouvintes e telespectadores brasileiros. É economista e, apresentado como tal, ganha automaticamente a chancela que o título lhe confere entre os leigos.
Como disse o perfil do ex-presidente Lula no Facebook, é um homem de seis empregos.
Preso no trânsito, eu mesmo já ouvi dezenas de bobagens ditas por Sardenberg na CBN. Suas análises são rasas, formulaicas e basicamente repetem o que lhe diz o pessoal daquela entidade que paira sobre todas as outras, um ente quase religioso, “o mercado”.
“O mercado”, no mundo de Sardenberg, não representa interesses. Se os bancos têm lucros gigantescos mesmo numa economia desacelerada, não há nada de errado com isso. Sardenberg, se tocar no assunto, vai atribuir o fato à eficiência do setor, aos “ganhos de produtividade” — ainda que eles sejam obtidos com demissões em massa, alta dos juros e superexploração da mão-de-obra.
Em outras palavras, Sardenberg tem lado — o dos banqueiros.
Como crítico do governo, o ápice de sua carreira foi em um comentário no Jornal da Globo, quando previu o caos quando o crescimento econômico do Brasil entrou no ritmo dos 9%. Seria, disse ele então, o terror, por causa dos gargalos da infraestrutura.
Segundo Sardenberg, Lula e Dilma deram conselhos ao jovem “que nem usa gravata”, Alexis Tsipras, em dezembro de 2012, quando o líder grego visitou o Brasil: “Ouviu que políticas de austeridade só levam ao desastre e que era preciso, ao contrário, aumentar o gasto público e o consumo”.
O artigo e o comentário sugerem que Tsipras teria adotado políticas equivocadas e afundado a Grécia. Na visão de Sardenberg, seria irônico Tsipras ter feito isso justamente quando Dilma Rousseff, reeleita, adotou no Brasil a austeridade que não recomendou ao colega grego.
No Facebook, o perfil do ex-presidente Lula fez piada:
Carlos Alberto Sardenberg, analista de economia de Rede Globo, Globonews, Estado de S. Paulo, O Globo, G1 e CBN desenvolveu uma explicação original para a crise econômica da Grécia. Diferente de economistas de renome internacional, como Paul Krugman e Joseph Stiglitz, para ele a culpa da crise grega é de Lula e Dilma.
Ele leu no site do Instituto Lula os registros de um encontro do atual primeiro-ministro, Alex Tsipras, com o ex-presidente Lula em 2012, e concluiu que a situação no país europeu piorou graças ao “aconselhamento” do ex-presidente e da presidenta. Já Krugman e Stiglitz acham que Tsipras está no rumo certo.
A imagem é uma brincadeira, mas a análise de Sardenberg sobre a Grécia foi real. Será que ele não está exagerando?
Por mais que o ex-presidente Lula pretenda não levar a sério o que diz Sardenberg, o fato é que, repetimos, ele fala e escreve para milhões de brasileiros, todos os dias.
Portanto, deveria ser desmascarado.
Para isso, basta citar um fato que Sardenberg sonegou em seu artigo e comentário radiofônico.
Alexis Tsipras tornou-se primeiro-ministro da Grécia em janeiro de 2015, quando o país JÁ enfrentava profunda crise econômica. Aliás, Tsipras só se tornou primeiro-ministro pelo fracasso de seus antecessores em enfrentar as consequências da crise para o povo grego. Uma crise que dura pelo menos cinco anos.
Ou seja, nem que quisesse seguir supostos conselhos de Lula e Dilma para gastar à vontade o primeiro ministro grego teria condições de fazê-lo. Ele já estava amarrado na camisa-de-forças dos credores e tudo o que fez desde então foi tentar aliviar, aqui e ali, as condições impostas pela política de austeridade exigida em troca de socorro financeiro.
Para além disso, por força da submissão ao euro Tsipras nem teria como imprimir dinheiro e sair torrando, para atender aos desígnios de seus — segundo Sardenberg — “mentores” brasileiros.
Ou seja, para cumprir seu objetivo político, que é atacar o governo, Sardenberg distorce, omite, descontextualiza.
Além de queimar Lula e Dilma, é óbvia a intenção dele de colocar no mesmo prato a Grécia, uma economia falida e completamente dependente de negociações com agentes externos — a troika formada pelo FMI, BCE e Comissão Europeia — e o Brasil, que enfrenta uma crise infinitamente mais amena, com amplo acesso aos mercados financeiros internacionais, menor desemprego e reservas de mais de U$ 350 bilhões.
Há quem prefira ver como piada o que, na verdade, é mais um caso grosseiro de terrorismo midiático.