segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Pós Golpe - Que acontecerá com os que foram socialmente incluídos?

Pós Golpe - Que acontecerá com os que foram socialmente incluídos?


Em Leitura a um capítulo da excelente série de artigos O Xadrez do Golpe, escrita pelo Luis Nassif, o autor faz uma pertinente indagação ao final do capítulo:

"2.     Ascensão social

O que ocorrerá com essa multidão que ascendeu socialmente, que conquistou comida na mesa e filhos nas universidades? Aceitará passivamente o recuo para as profundezas da miséria? É evidente que não, o que acarretará distúrbios populares cada vez mais intensos."

Pertinente tal proposição. É notório a grande ascensão social nos anos seguintes à vigência da Constituição de 1988, aprofundada com os governos Lula e Dilma. De acordo com Nassif, uma das principais finalidades do Golpe foi justamente acabar com o Estado Social que a Constituição tentou implantar no país e que timidamente se consolidava.
Um grande contingente populacional foi minimamente incluído socialmente. De maneira massiva, várias famílias tiveram acesso à melhor alimentação, ao ensino formal (inclusive universitário) e principalmente ao consumo. Uma das principais políticas públicas dos governos petistas foi justamente consolidar um mercado consumidor interno distribuindo renda e facilitando o acesso ao crédito para a população, além de programas de popularização ao ensino, seja técnico (PRONATEC), seja universitário (PROUNI, ampliação do FIES e cotas).
Muitos críticos à esquerda dos governos petistas alegam que essa inclusão se deu de maneira despolitizada, sendo que tal crítica teve mais peso com o golpe, visto que os socialmente incluídos não defenderam a presidenta golpeada. Grande parte dos que diretamente foram beneficiados por tais medidas, simplesmente repetiam o discurso propalado pela classe dominante e pela mídia hegemônica. 
A ausência de politização da inclusão social foi realmente um fato. André Singer, ex porta voz do presidente Lula já falava do esgotamento desse modelo de inclusão social sem mudanças sociais estruturais e sem politização. Em longo estudo, fala que o modelo estaria esgotado com a crise econômica. Para ele, o Lulismo, seria um modelo de distribuição de renda conciliatória, sem retirar os lucros das classes dominantes. O autor faz longa análise em obra intitulada " Os Sentidos do Lulismo".

Porém, deve se recordar que antes do chamado Lulismo, e principalmente, antes da Constituição de 1988, no país existia uma grande legião de excluídos. Fome, trabalho semi escravo e escravo, desnutrição infantil, altos índices de analfabetismo. Grande parte da população ainda sentia na pele a herança de um país com três séculos e escravidão.
Nesse sentido, mesmo que de uma maneira massiva e despolitizada, ou mesmo conservadora, existe uma geração que foi incluída socialmente. Diferente de seus pais, tal geração sempre teve como citou Nassif, mesa farta e acesso às universidades. A geração anterior se sujeitava ao sub emprego, à alimentação precária, à inacessibilidade ao consumo.Ainda estavam presos à mentalidade escravocrata reinante no país. Se o patrão não cumpria todas as regras trabalhistas não tinha problema, visto que para grande parte dessa geração, o patrão já era bondoso de lhe conceder um emprego que gerava a parca subsistência.
Já os que nasceram sob a égide do Lulismo não sabem que é fome, que é sub emprego. De maneira bem ilustrativa, são as Jéssicas do filme "Que Horas Ela Volta?" , não mais aceitam dormir no quartinho apertado e claustrofóbico da empregada. Querem entrar na faculdade igual ao filho do patrão.  

Com o golpe e o desmonte das garantias estabelecidas pela CF/88, esse grande contingente de incluídos, não farão mais parte do pacto social. A emenda Constitucional que limitou os gastos fulmina com o espírito inclusivo da constituição, consequentemente deixando de proteger as classes socais mais vulneráveis. Grande parte da chamada nova classe média estará sujeita ao retorno para miséria. 
As gerações anteriores se sujeitaram a exclusão. Não sei se a geração atual se sujeitará. Mesmo que tal inclusão seja superficial e sem romper com certas estruturas. Ao mesmo tempo tal inclusão foi subversiva, pois trouxe várias pessoas para dentro da sociedade.
Dentro das universidades hoje em dia se encontram negros, indígenas, glbts, estudantes de periferia. Tais pessoas ingressaram em cargos públicos através de concursos e em empregos melhores que seus pais por terem ensino formal. Essas pessoas não serão mais contempladas com políticas públicas.

As medidas recessivas estabelecidas pós golpe levarão grande parte da população para  a margem da sociedade. Aí que mora o perigo. Como essa população irá reagir? Não creio que de maneira passiva. Talvez não de maneira politicamente politizada e com estratégias para mudar a situação. Mas talvez de maneira violenta e caótica, quando se virem alijados da sociedade, marginalizados e vistos como exército de mão de obra barata, não aceitarão tal papel. Aí o país poderá se transformar em um verdadeiro caos.

2 comentários:

  1. Pior ainda será a destruição das esperanças desses jovens, por que além da ascenção social em sí os governos Lula/Dilma deram esperança a milhões de jovens periféricos de que era sim possível crescer socialmente, ter uma vida melhor que a dos pais, que era só trablahar duro e essa conversa de meritocracia. Quando perceberem que a casa caiu e podem inclusive viver ainda pior que os pais com menos garantias e perspectivas aí sim o caos será instalado, porque a esperança é tudo na vida de uma pessoa. Quando a ficha vai cair ? não sei. Mas acho que vai demorar bastante ainda.

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    1. Acho a recessão vai jogar o país no caos. Logo logo esses jovens vão notar que não fazem parte do pacto político.

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