quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Documentário - Amy - Como a indústria fonográfica trucidou um talento brilhante

Amy – 2015 – Legendado


amy
Belo documentário sobre a vida e obra de um dos maires talentos musicais surgidos nesse século. Cantora e  compositora com voz exuberante, encantou crítica e público com sua mistura de jazz e soul. O filme, dirigido pelo mesmo diretor que filmou famoso documentário do piloto brasileiro Ayrton Senna, mostra a trajetória fulminante da artista. Traz imagens de arquivo pessoal e mostra a trajetória da menina judia inglesa até a super estrela ganhadora de vários prêmios da indústria da música até sua prematura e trágica morte.
No filme mostra o quanto a indústria do show business é cruel com seus ídolos. De como talentos e almas sensíveis são vistos apenas como vacas leiteiras, como fonte de renda que são facilmente substituídas, de como podem valer muito mais mortas do que vivas. É assustador ver a transformação da garota traumatizada pela separação traumática dos pais, com problemas emocionais severos (bulimia, depressão, desamparo) é jogada aos leões da mídia.
Os corredores de repórteres com seus microfones e flash de fotografias são assustadoramente invasivos. O documentário mostra a forma sádica que muitos "comediantes"se deleitavam com o afundamento da cantora na armadilha das drogas!
Na obra, também é mostrada a relação ambígua entre a cantora e seu pai. O mesmo abandonou a família e causou sérios traumas na filha. Mas obra mostra que o pai se aproveitou da fama retumbante da filha. Dá-se a sensação de que o pai trocou a possibilidade de tratamento da filha pela gravação da sua obra prima, o disco Back to Black, ao retirar sua filha de uma clínica de recuperação para gravar o lendário disco.
É emocionante também observar como a compositora expunha visceralmente sua vida em letras confessionais e explícitas. Além de mostrar que além de ser uma grande cantora, era uma brilhante compositora. 
Infelizmente a vida retratada pelo documentário, foi ceifada por seus problemas emocionais, familiares, mas principalmente pela esquizofrênico show business, com a indústria da fofoca e sua agressividade. A grande artista se une a outras pessoas que foram usadas e esgotadas, como Michael Jackson, Jhon Lennon, Elvis Presley e tantos outros!

Amy (2015) on IMDb8.0/10

http://www.omelhordatelona.biz/

RMVB Legendado(535MB)

AVI + Legenda(1.39GB)

HD 720p + Legenda(5.46GB)

Assistir Online

Nome Original: Amy
Direção: Asif Kapadia
Gênero: Documentário
Áudio: Inglês
Legenda: Português
Qualidade: BRrip
Formato: RMVB/AVI/MKV
Qualidade do Video: 10
Qualidade do Áudio: 10

sábado, 14 de novembro de 2015

G. ÁLBUNS #100 (ESPECIAL): CARTOLA (1976)

G. ÁLBUNS #100 (ESPECIAL): CARTOLA(1976)


http://namiradogroove.com.br/grandes-albuns/especial-cartola-1976-segundo-disco

Por   

Segundo disco de um dos maiores sambistas brasileiros é pura inteligência emocional

01 O Mundo é Um Moinho
02 Minha
03 Sala de Recepção
04 Não Posso Viver Sem Ela
05 Preciso Me Encontrar
06 Peito Vazio
07 Aconteceu
08 As Rosas Não Falam
09 Sei Chorar
10 Ensaboa Mulata
11 Senhora Tentação
12 Cordas de Aço

Gravadora: Discos Marcus Pereira
Data de Lançamento: 1976
Cartola é especial – por isso, escolhi a dedo a inclusão desta obra-prima como o disco número 100 da seção#Grandes Álbuns. (Claro que isso não quer dizer que é o centésimo disco favorito do Na Mira. A escolha dos álbuns aqui sempre foi aleatória, como tudo é na vida. Na verdade, o carinho por ele é tão grande que entra facilmente naquele rol de discos da vida.) Enfim.
Falar de Cartola é mexer com a emoção. A história já é bem conhecida, mas não custa nada relembrar: Angenor de Oliveira gravou seu primeiro disco somente aos 65 anos (homônimo que antecede este), depois de ficar muito tempo no limbo artístico: ele já era compositor de sambas desde a década de 1940, defendendo a Mangueira – que ovaciona de forma bonita em “Sala de Recepção”.
Trabalhou em subempregos para sobreviver, até que foi redescoberto no começo da década de 1970 (mais detalhes de sua biografia, confira este post).
Tido como um dos maiores nomes do samba de todos os tempos, Cartola fazia o que se convém chamar de samba-canção, em que a melodia favorece composições mais densas. Cartola cantava o que lhe vinha do âmago: a procura do eu existencial (“Preciso Me Encontrar”) e a sabedoria emocional que foi retrato indissociável após seus longos percalços na vida.

Ele não tem medo de externar suas fraquezas em “Sei Chorar”, por exemplo. Com a experiência de quem já flertou diversas vezes com paixões e amores, ele crava com a maior certeza do mundo: ‘Estou cansado de ouvir dizer/Que aprende-se a sofrer no amor’.
Esse entendimento do mundo norteia, principalmente, suas canções mais tristes – como “O Mundo é Um Moinho”, em que a resignação de um amor não correspondido é precedida por ‘conselhos’, que até seriam ‘broncas’ se não fossem colocadas de forma tão sutil: ‘Preste atenção querida/Embora eu saiba que estás resolvida/Em cada esquina cai um pouco a tua vida/Em pouco tempo não serás mais o que és’.

Aí vem o ponto fulcral: ‘Preste atenção, o mundo é um moinho/Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos/Vai reduzir as ilusões a pó’. É a típica crônica de um rapaz apaixonado por uma moça mais nova que não quer levá-lo à sério. O que poderia ser uma arrogância da maturidade, Cartola transforma numa troca de experiências por meio da vivência. Se ela não o quer, tudo bem – a vida continua. Mas não pense que o caminho daqui em diante será fácil só porque recusou a entrega sentimental do rapaz.
Mesmo reconhecido como grandioso compositor, Cartola não recusou gravar canções de parceiros. No samba alegre de “Senhora Tentação”, a letra de Silas de Oliveira fala de um tema recorrente no gênero: não ceder cegamente aos desejos carnais (e aí a sonoridade que bem cabe ao morro entrega que os ‘efeitos da sedução’ podem embriagar a alma do cantor a qualquer momento: ele não vai se esforçar muito em impedir).

“Preciso Me Encontrar” é de autoria de Candeia, mas é uma música toda Cartola. Uma única audição comprova que não haveria de ter melhor intérprete para essas linhas quase filosóficas: ‘Deixe-me ir, preciso andar/Vou por aí a procurar/Sorrir pra não chorar’. Caso seja um leitor mais novo e não recorde de onde flertou com esta bela composição, refresco-lhe a memória: na primeira parte do filme Cidade de Deus (filme de 2002 de Fernando Meirelles), o personagem Cabeleira (Jonathan Haagensen) está fugindo em um táxi com a namorada grávida. O carro quebra, e ele é obrigado a empurrá-lo, tornando-se vulnerável à polícia que procurava os integrantes de uma pequena quadrilha que ele fazia parte. Lembrou? Quando começam os disparos da polícia, entram os primeiros acordes de “Preciso Me Encontrar”, terminando em um take contra-plongée que simboliza o encontro do defunto com o divino, ou com o diabo, ou com uma entidade que não sabemos. Cartola é mero porta-voz da inefabilidade do destino, que nos escapa quando mais achamos que estamos controlando-o.
A sabedoria também joga a favor da arte de Cartola quando ele resolve ser excessivamente sentimental. “As Rosas Não Falam” só pode ser fruto de alguém que contempla a boniteza do simples há muito tempo. ‘Que bobagem as rosas não falam/Simplesmente as rosas exalam/O perfume que roubou de ti, ah!’.
Cartola, que cantava apenas o que é inerente à sua trajetória, também soube retratar a realidade dos morros de forma singela – como em “Ensaboa Mulata”, com participação deCreusa.
Outra das grandes lindezas do disco é a faixa de encerramento “Cordas de Aço”, ardor contemplativo de um dono ‘de violão que os dedos meus acariciam’ em relação ao objeto do canto – no caso, a mulher, o amor não correspondido, a mazela. Enfim.
O segundo trabalho homônimo de Cartola foi feito para emocionar numa intensidade ainda maior que o primeiro – também ótimo com clássicos como “Tive Sim”, “Disfarça e Chora” e “Alvorada”.
Depois deste álbum, o cantor da Mangueira ainda gravaria mais dois discos em vida: Verde Que Te Quero Rosa (1977) e Cartola 70 Anos (1978), antes de falecer em 30 de novembro de 1980 no bairro de Jacarépaguá, no Rio de Janeiro. Sua importância é tão unânime, que no dia de sua morte comemora-se o Dia do Samba em sua homenagem.
No entanto, não é apenas o gênero que define a grandiosidade de Cartola; e, sim, a sabedoria a favor dos sentimentos – ou aquilo que convencionamos chamar de ‘inteligência emocional’. Nesse assunto, Cartola é mestre supremo.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

A força do Capital dentro de uma sociedade!

O desastre abaixo descrito demonstra a força do grande capital. A Vale e sua sócia australiana BHP Billiton causaram um dos maiores desastres ambientais da história brasileira. Porém, por se tratar de uma das maiores anunciantes na imprensa, uma das maiores doadoras de campanha de todos os grandes partidos e ter um dos maiores receitas nos Estados e Municípios que atuam, é tratado com bastante leniência pela opinião pública. 

Os acionistas da Vale auferem lucros estratosféricos e deixam para a sociedade danos ambientais irreparáveis, passivo trabalhista e problemas sociais. Com facilidades como a da ridícula lei Kandir, dos tristes anos FHC, as empresas importadoras de commodites ainda são isentas do pagamento de ICMS. Isso mostra que o poder do capital deixa o Estado, a imprensa e a opinião pública de joelhos. Após a uma tragédia de proporções tão drásticas a submissão ao grande capital fica totalmente evidente. A situação é lamentável!  

por Luiz Carlos Azenha: www.viomundo.com.br 
A mineradora Samarco, joint venture da Vale com a australiana BHP Billiton, teve um lucro líquido de R$ 2,8 bilhões em 2014. Ou seja, limpinhos!
Como se sabe, o Brasil é uma “mãe” para as mineradoras. A Agência Pública fez uma reportagem interessante a respeito, quando Marina Amaral perguntou: Quem lucra com  a Vale?
O “pai” das mineradoras é Fernando Henrique Cardoso. Em 1996, com a Lei Kandir, isentou de ICMS as exportações de minérios!
O que aconteceu com a Vale, privatizada a preço de banana, é o mesmo que se pretende fazer com a Petrobras: colocar a empresa completamente a serviço dos acionistas, não do Brasil.
O que isso significa?
Auferir lucros a curto prazo, custe o que custar.
A questão-chave está no ritmo da exploração das reservas minerais.
Num país soberano, o ritmo é ditado pelo interesse público. É de interesse da população brasileira, por exemplo, inundar o mercado com o petróleo do pré-sal, derrubando os preços? Claro que não.
Quem lucra, neste caso, são os países consumidores. Os Estados Unidos, por exemplo. Portanto, quando FHC privatizou parcialmente a Petrobras, vendendo ações na bolsa de Nova York, ele transferiu parte da soberania brasileira para investidores estrangeiros. Eles, sim, querem retorno rápido. Querem cavar o oceano às pressas, até esgotar o pré-sal. É a dinâmica do capitalismo!
O Brasil é um país sem memória. Não se lembra, por exemplo, do que aconteceu na serra do Navio, no Amapá. Uma das maiores reservas de manganês do mundo foi esgotada porque interessava aos esforços dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. Ficamos com o buraco e a destruição ambiental…
Obviamente, não é um problema brasileiro. Fui pessoalmente às famosas minas de diamante de Serra Leoa, na África, que mereceram uma visita da rainha Elizabeth. Investiguei o entorno. O local de onde sairam bilhões de dólares em diamantes não tinha rede de esgoto, nem de distribuição de água.
O mesmo está acontecendo neste exato momento com o coltan, do Congo, um mineral utilizado pela indústria eletroeletrônica. A exploração do coltan financia uma guerra interminável de milicias, que exportam o mineral para a Bélgica praticamente de graça!
Serra Leoa, Congo, Brasil…
Infelizmente, estamos no mesmo nível.
Como denuncia seguidamente o Lúcio Flávio Pinto, o ritmo da exploração do minério de ferro de Carajás é um crime de lesa-Pátria.
Por que haveria de ser diferente nas reservas de Minas Gerais?
A economia do estado, tanto quanto a brasileira, ainda é extremamente dependente da exportação de commodities. À Vale interessa produzir rápido, derrubar o preço a qualquer custo para apresentar lucro no balanço.
Infelizmente, a elite brasileira até hoje se mostrou incapaz de formular um projeto soberano de país. Isso vale para PSDB, PT e todos os outros, como ficou evidente na tragédia de Mariana.
Não podemos culpar a mineradora Samarco pela tragédia antes de uma investigação independente e rigorosa. Mas, será que ela vai acontecer?
Do prefeito de Mariana ao senador tucano Aécio Neves, passando pelo governador petista Fernando Pimentel, todos deram piruetas para salvaguardar a Samarco. Pimentel deu uma entrevista coletiva na sede da mineradora!
Enquanto isso, milhões de metros cúbicos de lama desceram o rio do Carmo e chegaram ao rio Doce.
A Samarco diz que a lama é inerte, ou seja, não oferece risco à saúde.
Numa situação ideal, não caberia à Samarco dizer isso — com reprodução martelada em todos os telejornais da Globo.
O familiar de um desaparecido comentou comigo que, na Globo, as vítimas da tragédia não tinham rosto…
A Vale, afinal, é grande patrocinadora.
Espanta é que os governos federal, estadual e municipal, que em tese deveriam atuar de forma independente — em nome do interesse público — não o façam.
A primeira providência em um país civilizado seria uma análise de emergência na lama, para determinar se ela oferece algum risco à saúde.
Afinal, milhões de brasileiros podem entrar em contato com os rejeitos, seja nas margens dos rios, seja através da água consumida.
Além disso, o tsunami de lama carregou corpos humanos e de animais por uma longa extensão, de centenas de quilômetros.
No entanto, a não ser pelo esforço de relações públicas da Samarco, as pessoas afetadas, como testemunhei pessoalmente, estão totalmente no escuro.
Mais adiante, outras questões importantes vão surgir.
O rio do Carmo foi completamente destruído, de ponta a ponta. Quem vai pagar a conta? O Estado brasileiro ou a Samarco?
A Samarco fez o que se espera de uma empresa privada, que pretende minimizar os impactos sobre si do desastre ambiental que produziu.
De forma competente, acionou seu esquema de relações públicas para deixar no ar a ideia de que o rompimento de duas barragens foi consequência de um terremoto.
Transferiu os desabrigados para hoteis, evitando a ebulição de centenas de pessoas que, conjuntamente, poderiam conjurar contra uma empresa da qual sempre desconfiaram.
Conversei com os sobreviventes de Bento Rodrigues: todos sempre acharam um exagero o crescimento vertical, contínuo, da barragem, para guardar mais e mais lama.
Segundo eles, a Samarco começou a comprar novas áreas de terra porque pretendia construir uma outra barragem, mais próxima do povoado, para dar conta do armazenamento dos rejeitos.
Que a Samarco cuide de seus interesses é parte do jogo.
O espantoso é ver a captura do Estado brasileiro, em todas as esferas, pelo interesse privado.
Basta uma consulta às pessoas comuns, que vivem sob as barragens de rejeitos — que se contam às centenas em Minas — para que elas denunciem: as empresas aumentam indefinidamente as cotas, sem transparência, sem qualquer consulta pública, sem planos de resgate de emergência, sem um básico sinal sonoro para dar o alerta em caso de acidente.
É bem mais barato que construir uma nova barragem, certo? Lembrem-se: estas empresas estão a serviço do lucro de seus acionistas e a maioria deles não mora em Mariana, provavelmente nem mora no Brasil.
Minas Gerais, acossada pela crise econômica, sucumbe à lógica das mineradoras: como denunciou o leitor Reginaldo Proque, está tramitando na Assembleia Legislativa um projeto para simplificar o licenciamento ambiental, de autoria do governo Pimentel.
Em resumo, os desabrigados das margens do rio do Carmo fazem o papel, em carne e osso, da crise de representação da política brasileira.
Ninguém os ouve, nem consulta.
Quando muito, são sobrevoados por helicópteros que “representam” um Estado servil ao poder econômico.


segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Los Hermanos e a geração Y


Texto publicado em 2014 na resita Piauí na sessão questões musicais. Com a banda está em turnê, o texto vem à calhar.

Los Hermanos e a geração Y


POR Paulo da Costa e Silva, Zuim Podcast

 Tenho lido na internet alguns textos falando sobre a “geração Y” – a geração daqueles que nasceram entre o fim da década de 1970 e meados dos anos 1990. Em geral são textos que adotam o ponto de vista dos pais desses “novos adultos”. A julgar pelo que vem sendo escrito, a geração Y anda meio infeliz. O problema estaria, sobretudo, na relação com a esfera do trabalho, na inserção profissional que é via de acesso para o mundo adulto. Grosso modo, os textos pintam um retrato semelhante desses “novos adultos”, que é mais ou menos o seguinte: jovens mimados, filhos de uma classe média confortável, com excelente formação e uma auto-estima inflada; jovens que nunca tiveram que lutar por nada e que se julgam demasiadamente especiais, esperando, por conta disso, que as vitórias no mundo lá fora (leia-se, no mercado de trabalho) sejam relativamente fáceis, como se fossem um desdobramento natural de sua genialidade. Jovens imbuídos de imensa ambição, mas que não possuem a disposição necessária para enfrentar eventuais sacrifícios. Apenas um desejo de fôlego curto, infantil, típico de uma geração que se acostumou a receber tudo de mão beijada.
Enfim, seria mais ou menos esse o perfil psicológico da geração Y, a causa de seu mal-estar. O antídoto, da parte dos pais, é claro que nem água: menos protecionismo; é preciso deixar os filhos “aprenderem com a vida”; deixar que fiquem livres para “enfrentar o mundo”. E aqui reside o ponto fraco desses argumentos: eles falham surpreendentemente ao não indagar sobre que “mundo” é esse que os Y’s devem enfrentar. Em outras palavras, eles retiram a geração Y do contexto histórico no qual está inserida, reduzindo a discussão à esfera psicológica das relações familiares. Como se fosse a mesma coisa iniciar a vida adulta nos anos 1970 ou nos anos 2000. Tudo se torna uma questão de força pessoal diante dos desafios da vida. Ao perder de vista o contexto maior, questões que são coletivas passam a ser sentidas como sendo puramente individuais. Ao mesmo tempo, retira-se o solo real sobre o qual as expectativas e sonhos da geração Y se erguem. A questão passa a ser exclusivamente a de saber se o Y é suficientemente competente ou não; se está ou não à altura das imposições cada vez maiores do mercado de trabalho. Se é eficiente e competitivo. Se tem condições de ser um vencedor.
Me parece que uma banda como o Los Hermanos foi capaz de captar com sutileza o estado de espírito dessa geração. Álbuns como Bloco do eu sozinho e Ventura abrem verdadeiras janelas para os anseios e dilemas dos filhos da velha classe média, agora vistos sob sua própria perspectiva, e não mais pelo crivo geracional dos pais. Tentarei, a seguir, destacar algumas dessas janelas.
1. Não há como entender a geração Y sem levar em conta as mudanças do sistema capitalista nos últimos 20 ou 30 anos. Iniciar a vida adulta como trabalhador nos anos 2000 é sentir na carne o resultado de uma desvalorização do trabalho iniciada em meados dos anos 1970 e levada a cabo com intensidade crescente até os dias de hoje. É sentir-se continuamente ameaçado pela possibilidade (já naturalizada) de “não encontrar um lugar” no mercado de trabalho; pelo sentimento de ser altamente “substituível”. É sentir a pressão de um sistema que produz cada vez mais ansiedade com o tempo, no qual estamos continuamente correndo atrás não sabemos bem do que, num mundo que estimula e banaliza a competição, a “luta por vagas”, apoiando-se, para isso, no mito do vencedor. Várias canções dos Hermanos falam diretamente contra essa lógica, relativizando o mito do vencedor. Falam para aqueles que não estão mais dispostos a (ou não são capazes de) topar o jogo, e que tentam afirmar outros valores diante dele. Coloca-se contra “quem acha que perder é ser menor na vida”, contra “quem sempre quer vitória e perde a glória de chorar”. Numa sociedade cada vez mais dividida entre vencedores e perdedores (e na qual passou a ser legítimo que o “vencedor” leve tudo), o mercado de trabalho se tornou, na descrição de Richard Sennett, “uma estrutura competitiva que predispõe ao fracasso grandes números de pessoas educadas”. É para esses fracassados “educados” – de hoje e do futuro -, a geração Y, que se dirige a música dos Hermanos.  
2. Muitas canções dos Hermanos estabelecem uma conversa informal com o ouvinte usando fórmulas como “senta aqui, que hoje eu quero te falar”. São conselhos que criam um espaço de cumplicidade, um sentimento, talvez, de irmandade, um pouco como o  próprio nome da banda já indica. Letras que apontam para as limitações que se colocam no caminho de determinado ideal de performance. “Não há ninguém capaz de ser isso que você quer / vencer a luta vã e ser um campeão”, canta mansamente a voz anasalada de Marcelo Camelo para um personagem imaginário visivelmente abatido. Não se sentindo à altura do ideal de performance, o “eu” não coloca o modelo em questão, mas retorna a agressividade, a culpabilidade e a vergonha sobre si mesmo: se não consigo realizar meus objetivos é porque não presto, não estou à altura, sou nulo. Vem daí a emergência dos novos sintomas do stress, esgotamento, e, sobretudo, a depressão. Numa canção como Tá bom, sente-se a presença de um amigo que tenta amparar certa perda de sentido, uma falência do desejo – “você precisa reagir, não se entregar assim, como quem nada quer”. A mensagem, contudo, não se confunde com o costumeiro “você também é capaz”; é antes um reconhecimento dos limites que busca instaurar uma nova perspectiva, mais adequada às medidas do sujeito: “junto as mãos ao meu redor, faço o melhor que sou capaz só pra viver em paz”.  A mensagem quer tirar o sujeito de uma posição atormentada diante dos próprios limites; é preciso ir com mais calma, calibrar melhor as expectativas e ambições, saber olhar para “as coisas casuais”, não se deixar escravizar por ideais inatingíveis, pois só assim será possível encontrar a paz.
3. O ideal de sucesso é frequentemente atacado pelos Hermanos a partir da descrição de personagens que parecem persegui-lo a qualquer custo. O sucesso não passa de uma aparência, uma máscara social que deve ser atravessada pelo olhar atento, crítico. “Olha lá, quem vem do lado oposto vem sem gosto de viver”. O “cara estranho” da canção, típico exemplo do “homem motivado”, cuja vida não passa de uma exaustiva busca por aprovação e auto-estima, e que, no contexto cordial brasileiro, “finge não haver competição” – como se estivesse participando de uma dinâmica de grupo em alguma empresa – mira-se em exemplos falsos da televisão. Em outra música, que não foi gravada pelos Hermanos mas que bem poderia ter sido, Camelo revela a infelicidade e a fragilidade de quem se diz “um cara valente”. Um rapaz “que sem ter proteção foi se esconder atrás da cara de vilão”. Outro personagem, um rapaz que se apresenta “tão sem defeito”, está apenas “se exibindo pra solidão”. São exemplos que indicam a maneira como ideais nobres – de bravura, coragem e luta – parecem ter sido usurpados por uma lógica competitiva que afasta o sujeito não apenas dos outros, mas também de si mesmo; que o aliena do que é realmente relevante na vida. A música dos Hermanos expressa o desejo não de ser um campeão, mas de pular fora dessa lógica. Há nela uma “vontade de comunidade” que passa a definir uma linha de separação entre nós e eles – “pra nós todo amor do mundo, pra eles o outro lado”.
4. O problema é que o mundo parece demasiadamente intrusivo. Ele exige cada vez mais agressividade, impõe continuamente provações, gera uma condição de avaliação permanente, em infindáveis processos de seleção. Um mundo no qual a urgência foi banalizada. Um mundo “que anda hostil. O mundo todo é hostil”. As canções dos Hermanos expressam constantemente um desejo de “ser deixado em paz”. Tentam recuperar uma calma perdida. A calma “daquele cara” viria, justamente, do fato de que ele “não entende de ser valente”, de que “não sabe ser melhor” e nem “mais viril”. Nessa canção (De onde vem a calma), a voz de Camelo canta a resistência insignificante de um sujeito esmagado por demandas que vão contra suas aspirações de serenidade. Ao mesmo tempo, ele sabe que é preciso não ceder. Ao heroísmo da performance contrapõe-se o heroísmo da resistência. A resistência é um fiapo solitário de voz, cantada na fragilidade aguda do falsete de Camelo. O canto quebradiço de quem se recusa a ser moldado por um mundo que pouco lhe diz respeito.
5. É também evidente a vontade de fuga, que se manifesta sobretudo em algumas canções de Rodrigo Amarante, como no Último romance, por exemplo. Mas até essa fuga é uma fuga que quer levar a “casa numa sacola”. Trata-se de algo muito diferente do “go for it” que caracteriza uma parte considerável da retórica do nosso tempo. Sennett escreveu que cada vez mais pessoas enfrentarão diariamente o risco no novo capitalismo flexível, e de que há uma tendência ideológica que transforma tal necessidade em virtude, como se fosse este o signo de uma vida intensa. Não há, na música dos Hermanos, qualquer tipo de louvação ao risco. Pelo contrário: muitas vezes o que encontramos é a vontade de retorno e de permanência, a vontade de voltar ao porto, que vem junto com o lamento por mudanças indesejadas. E se há uma diferença profunda entre os Hermanos e os tropicalistas seria justamente essa: a de colocar novamente a mudança sob suspeita. A teimosia em avaliá-la de modo direto, subjetivo e parcial – do ponto de vista concreto de um sujeito sentimental. As coisas mudam, sim, e não raro, a depender do ponto de vista, mudam para pior. Um lamento difuso – talvez o lamento de uma geração que não chegou a se sentir como Sujeito da história – perpassa algumas canções dos Hermanos. Daí títulos como O pouco que sobrou, ou versos de uma lamúria leve, mas não menos verdadeira, como “veja você, quando é que tudo foi desabar”. “O vento que entortou a flor” (um verso pós-bossa nova) e que “passou também por nosso lar” (“eu sei, é o amor que ninguém mais vê”) é de algum modo apaziguado com a notícia do retorno ao “bloco da família”. Mas nem isso apaga o traço de melancolia na música dos Hermanos. A melancolia de quem sente ter perdido o lugar.
6. Quando os grandes projetos coletivos se esvaem, o amor se torna a moeda forte da felicidade. É surpreendente notar o conservadorismo afetivo das canções dos Hermanos. Não há qualquer consideração pela abertura sexual dos anos 1960, pelo campo de experimentação que ela representou – simplesmente é como se nada disso tivesse existido. Camelo pode mandar a mulher abrir as portas “do castelo que construí pra te guardar de todo o mal”, aos berros de “eu sou teu homem, viu!”, ou louvar os “braços castos” de outra donzela. Amarante expõe a amplidão de seu sentimentalismo e de sua intransigência em versos como “eu só aceito a condição de ter você só pra mim!” Parece que a hostilidade do mundo, sua falta de garantias e de horizonte futuro (“e agora o amanhã, cadê?), precisa ser compensada por uma segurança afetiva apoiada em modelos há muito consolidados – a família, os velhos códigos do amor romântico – e também por uma sede de transcendência – que no fim se torna a única fuga viável desse mundo. “É preciso força pra sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê”. 
7. Os Hermanos não se sentem compelidos a afirmar ou louvar o presente – nem precisaria, a publicidade já faz isso mais do que o suficiente; são antes os cantores das feridas do nosso tempo, do descompasso entre as demandas da atualidade e os anseios profundos do sujeito. Nisso se aproximam, talvez, da Legião Urbana de Renato Russo. Mas há um sentido maior de isolamento nas canções dos Hermanos. Eles cantam o Bloco do eu sozinho (título do segundo álbum da banda); falam de um sujeito que samba “bambo e só”. O filtro subjetivo, individual, parece ser o único possível, e é difícil imaginar os Hermanos falando em nome de uma geração, como havia feito a Legião em Geração coca-cola. Ao mesmo tempo, há também uma recusa (ou incapacidade) em apontar as origens da insatisfação, ou até mesmo em pintar um quadro realista da situação. Tudo parece mais vago, e até os anti-exemplos (o “cara estranho”) tendem a ser diluídos em um simples “nós” e “eles” na transição do terceiro para o quarto álbum da banda. A passagem do Ventura (2003) para o 4 (2005) também simboliza, de certo modo, um mergulho mais fundo no subjetivismo e um maior distanciamento do real. Tudo isso se traduziu num parcial abandono das convenções da canção feita para o formato do rádio – com forma legível, refrões bem definidos e duração padronizada – e na adoção de procedimentos mais erráticos, de menor definição estrutural. Procedimentos que de algum modo mimetizam um estado de deriva – como o de um barco solto no mar – e que deram origem ao que Zé Miguel Wisnik definiu como “canção expandida”, com suas inesperadas “lagoas sonoras”, sua temporalidade finalmente emancipada da urgência do presente. É como se o mundo não mais oferecesse qualquer interesse, e o indivíduo tivesse se recolhido inteiramente dentro de si, como um caramujo. Há algo profundamente romântico nesse movimento melancólico rumo à interioridade. E certamente ele está apoiado sobre a volta da melodia como principal parâmetro de sentido da canção – Camelo talvez seja o principal melodista de sua geração -, numa diferença marcante com o peso da palavra e do ritmo no rap, com sua vontade concreta de nomear e atuar sobre o real. “É, pode ser que a maré não vire / pode ser do vento ir contra o cais / e se já não sinto os teus sinais / pode ser da vida acostumar”. As músicas dos Hermanos nos fazem indagar sobre o lugar da melancolia no mundo de hoje – sobre a diferença perigosamente mínima, até do ponto de vista das palavras, entre resistência e desistência. Se o Ventura ainda era um disco conectado com o pop, 4 parece um exílio que anuncia o fim melancólico da própria banda. 
8. “A gente quer ver horizonte distante”. “Dá-me luz, ó Deus do tempo, dá-me luz”! Quem teve a chance de ir aos shows dos Hermanos sabe que a banda existia na media em que havia um público. As duas instâncias caminhavam juntas, em rara simbiose. Pessoas cantando da primeira à última música, em total identificação. Havia nos concertos dos Hermanos algo da “efervescência coletiva” que Durkheim associava à experiência coletiva do sagrado, uma atmosfera de comunhão religiosa. Não deixa de ser curioso que ela tenha sido alcançada pela concentração na experiência individual, no Bloco do eu sozinho, e não pela negação desta. Que ao descer ainda mais no indivíduo se tenha tocado em um fundo comum, capaz de fazer com que, pelo menos durante os shows, uma parcela expressiva da juventude de classe média rompesse o isolamento e voltasse a se conectar em irmandade. E que de repente uma geração tenha passado a ter uma ideia mais clara de si.