sexta-feira, 29 de maio de 2015

5 bons discos de rock nacional



Muitas pessoas clamam constantemente que a boa música ficou no passado. Repetindo frases feitas, lamentam o fato da música brasileira estar em péssimo nível. Do rock então, choram pelo fato dos anos 80 terem acabado, que o rock nacional teria morrido.
Creio que muita coisa mudou na música brasileira, porém não em quesito da qualidade, mas sim como ela é produzida e distribuída. Com a consolidação da internet de melhor qualidade e a popularização do donwload, as gravadoras praticamente desapareceram.
Á grosso modo, antes as gravadoras eram as grandes difusoras e promotoras da música de grande consumo. Com poucas exceções, artista que não tivesse gravadora não tinha sua obra lançada. O chamado artista independente era uma raridade.
As gravadoras, pagavam altos cachês aos artistas escolhidos, pagavam para rádios tocarem os discos dos seus contratados, pagavam passagens para jornalistas comparecerem à lançamentos de seus artistas, investiam grandes quantias em divulgação.
Como o mercado de venda de discos era lucrativo, a indústria investia praticamente em todas as áreas. De músicas mais popularescas, até à música de mais requinte, como nomes da MPB. Com isso, na década de 80, as gravadoras investiram em artistas do rock nacional e consolidaram assim uma série de artistas do segmento.

 Porém com a decadência das gravadoras, a distribuição e produção musical mudou por completo. Pagar divulgação, investir para tocar me rádios e programas de tv, só mesmo músicos e estilos musicais muito popularescos. Por isso as rádios hoje só tocam o chamado sertanejo universitário, pagode e afins. Não se escuta mais nas rádios mais populares outros tipos de música.
Assim, artistas que não se enquadram nesse tipo de música ultra comercial, mas que tem anseios artísticos criaram meios para produzir e distribuir sua música. Longe das rádios, dos programas de tv, das trilhas de novela, muitos artistas autorais produzem boa música.
Disponibilizando suas obras na internet, divulgando através de redes sociais, fazendo shows em esquemas colaborativos, adquirem admiradores e público que lhes dão a possibilidade de viabilizar suas carreiras. Na maioria das vezes desconhecidos do grande público, possuem admiradores que acompanham seu trabalho e comparecem nas apresentações ao vivo.
Aqui, seguem 5 álbuns de grande qualidade que não serão divulgados em rádios comerciais, não aparecerão no programa do Faustão, nem na novela das 9.


Seres Verdes ao Redor – Super Cordas - 2006

 
O disco Seres Verdes ao Redor traz um doce rock psicodélico rural. Com melodia e harmonias precisas, a banda lembra uma mistura de Syd Barret com Sá, Rodrix e Guarabira. A banda se define como: “Partículas atômicas com crise de identidade, o horizonte pelado no olho do sapo, ecos de psicodelia sessentista fotossintetizados por folhas de cana-de-açúcar de uma terra temporalmente distante. Tudo isso, ou apenas uma Utopia Líquida emanada de cinco cabeças agrupadas pelo som das nuvens e paisagens úmidas e barulhentas.
Materialmente, os Supercordas já vibraram por oito capitais brasileiras e um caldeirão de outras cidades por aí afora em abundantes concertos desde 2003, quando lançaram o e.p. caseiro A Pior das Alergias pela Midsummer Madness. Em 2005 espalharam seus tentáculos pela internet com outro EP. caseiro, o espacial Satélites no Bar. Um turbilhão de convites para apresentações e muito mais visibilidade levaram a banda a gravar seu primeiro álbum - Seres Verdes ao Redor - com uma sonoridade mais polida. O grupo iniciou a produção do disco nos estúdios da Trama em São Paulo (depois de ter ganho 36 horas de gravação num concurso do TramaVirtual e da revista Capricho) e concluiu o trabalho em casa - no Rio de Janeiro e em Parati. Resenhado pelas principais revistas especializadas e jornais do país, e elogiado por grande parte dos chamados formadores de opinião da esfera musical, o álbum conquistou um grande público com suas belas canções, sua psicodelia bucólica e sua estrutura épica”.

Porcas e Borboletas – Porcas e Borboletas 2013


Banda nascida na Universidade Federal de Uberlândia traz um em seu terceiro álbum, um excelente disco de rock. No primeiro trabalho, lançado no início da carreira, a banda pecava pelo uso excessivo da ironia e da irreverência. No segundo disco a banda já apresenta músicas mais robustas, porém é no terceiro que a banda compõe um grande álbum.

O disco tem letras que citam David Bowie, sexo, Silvio Santos, bairros de Uberlândia, Poemas de Paulo Leminsk, Cuiabá, tudo embalado com arranjos bem feitos e bem executados pelos músicos da banda (destaque para o Guitarrista Moisés Moita), sempre prazeroso em ser ouvido.
Com referências claras à vanguarda paulistana, Titãs do início da carreira, Porcas e Borbeletas traz no seu terceiro disco, um excelente álbum.
 


Trummer Super Sub América - Trummer Super Sub América 2014

http://www.trummerssa.com.br/release-port.htm


Fabio Trummer é líder, compositor, vocalista e guitarrista da Eddie, banda referência na música pernambucana há 25 anos. Em 2013, ele bateu à porta dos vizinhos Dieguito Reis (baterista) e Luca Bori (baixista), ambos soteropolitanos e integrantes do grupo Vivendo do Ócio, e convidou-os para uma parceria. “Desde 2012 eu vinha compondo um repertório para fazer um álbum sem a banda Eddie. Como exercício criativo e como uma maneira de ter uma dinâmica de trabalho maior em São Paulo”, conta Trummer. 
A ideia era fazer uma música com poucos elementos, minimalista, com referências de blues, do punk e pós-punk. “Um rock brasileiro autoral e contemporâneo, feito pelo prazer de compor, arranjar e tocar juntos”, diz Trummer. Em agosto de 2013 estava formado um power-trio que vem mesclando sotaques e vivências de duas gerações para cantar a América do Sul e suas singularidades. Um punk-rock político e cheio de atitude.
De volta à garagem, o SSA ensaiou durante setembro e outubro,  cuidou dos arranjos e gravou em novembro do mesmo ano. Em janeiro de 2014 o álbum estava pronto. Sem selo, sem gravadora e sem lei de incentivo a cultura, como faziam os roqueiros de antigamente.  “Decidimos nos basear na atitude dos movimentos culturais das décadas de 1970 e 1980 e na atmosfera de insatisfação e incredibilidade nas questões políticas e sociais”, diz Trummer. Brotaram crônicas das ruas, melodias tortas e canções de protesto. Um punk-rock de meia idade, com o know-how de 25 anos de estrada. Porrada de liberdade criativa e identidade própria. Salve a América do Sul! 

Faixa a Faixa
SAS (Salve a América do Sul) - Baseada nas canções sobre a América do Sul, a composição de Trummer e Lirinha (ex-vocal do Cordel do Fogo Encantado) fala de realidades que se arrastam no continente em sua eterna condição de colônia dos países ricos.
Medo da Rua - De Trummer e Luca Bori, a faixa debate a escala da violência nas ruas das cidades, questionando a atitude de medo e fuga dos cidadãos, a entrega da vida social ao estado e a pouca participação da população na resolução dos problemas urbanos.
Ardendo em Chances - Um poema autorretrato de Trummer, assinado em parceria com Diego Reis.
Eu tenho fé - Composição do ex-Eddie Rogerman, aborda o otimismo apesar das incertezas. 
Música Canibal - Nesta faixa, Trummer brinca com a primeira crônica sobre a música do compositor brasileiro Villa Lobos na Europa, publicada na Paris dos anos 1920.
De Olinda ao Mississipi - As guerras que travamos diariamente em todas as partes do planeta, inerentes à condição humana, servem de tema para a poesia de Trummer nesta faixa.
Descompasso - De Trummer, Dengue, Rica Amabis e Pupillo Menezes, foi originalmente composta para projeto "3 na Massa", em parceria com os integrantes da Nação Zumbi.
The End - Em uma narrativa de tom cinematográfico, a faixa composta por Trummer explora as possibilidades imaginárias de um casal no dia do fim do mundo.
Sindicato Natural – A letra épica propõe a revanche da natureza contra os humanos e a ocupação verde dos espaços urbanos dos dias de hoje (Trummer).
Só faltou dizer adeus. Com letra de Trummer e Lirinha, conta encontros e desencontros que acontecem e se desfazem, virando apenas lembrança de uma noite inesquecível


O Berço – Alto do Vale – 2014

A banda O Berço, foi formada em 2010 pelos irmãos Biel Faria (voz, violão e guitarra) e Junior Faria (voz, baixo e gaita), Ciro Nunes ( bateria, flauta e voz) e Lucas de Paula (voz, violão e guitarra). Com influências trazidas do Southern Rock, Country Rock, Blues, Rockabilly e British Rock, a banda se envolve no clima familiar e traz à tona uma energia pulsante em todos os shows. Desde o lançamento do EP “Homonimo” (2012), tem circulado por diversas cidades brasileiras e conquistado um admirável espaço no cenário indie nacional. O primeiro disco tem lançamento previsto para o segundo semestre de 2013

Com o disco o Alto do Vale, a banda de Patos de Minas conseguem fazer rock captando bem as características do interior de Minas.  Montanhas, paisagens bucólicas, universo rural!
Alto do Vale é um disco de um lirismo intenso, com arranjos de bom gosto, vocais de boa harmonia e ainda traz participação do compositor Leone, cantando em uma das faixas.

Carne Doce – Carne Doce – 2014
(http://miojoindie.com.br/disco-carne-doce-carne-doce)
Por: Cleber Facchi
Fotos: Beatriz Perini

Sertão e cidade. Delicadeza e selvageria. Doce e salgado. No universo particular da banda Carne Doce, os contrastes vão muito além do nome/receita que representa o coletivo. Fruto da interação entre o casal Salma Jô e Macloys Aquino, o grupo nascido na cidade de Goiânia em 2012, há muito parece distante do tom confessional emoldurado nas canções do EP Dos Namorados (2013). Longe dos sussurros românticos e temas explorados no curto álbum, a dupla goiana, hoje acompanhada de João Victor Santana (guitarra e sintetizador), Ricardo Machado (bateria) e Aderson Maia (baixo), deixa de lado o próprio isolamento para tratar do primeiro álbum de estúdio como um mundo aberto. Um imenso cenário em que vozes, arranjos e temas dicotômicos se cruzam com naturalidade, prontos para seduzir o ouvinte.
Da mesma árvore que As Plantas Que Curam (2013), disco de estreia do grupo conterrâneo Boogarins, o homônimo álbum usa do passado como uma ferramenta de natural diálogo com o presente. Da voz instável de Salma Jô, íntima de Gal Costa no clássico Fa-Tal – Gal a Todo Vapor (1971), passando pelo acervo de fórmulas que ressuscitam Secos e Molhados (Passivo), Novos Baianos (Fruta Elétrica) e Clube da Esquina (Amigo dos Bichos), cada peça do registro é uma essencial brecha nostálgica. Velho e novo. Recortes e referências que em nada ocultam as próprias imposições da banda.
Exemplo convincente disso mora nos versos explorados pela vocalista ao longo do trabalho – peças atrativas pelo parcial ineditismo dos temas. Discussões culturais/sociais logo na inaugural Idéia (“Gente que troca mas por mais“); referências bucólicas em Sertão Urbano (“O progresso é mato“) e Amigo dos Bichos (“E vai ter que morar no alto da mangueira”); sexo (explícito) em Passivo (“Vem Me Fuder“) e todo um arsenal que escapa da despretensão carioca ou do sentimentalismo plástico da cena paulistana. Mesmo o romantismo enquadrado em Canção de Amor, Fetiche e Benzin parecem distantes do óbvio em se tratando de outras obras próximas. Se existem receitas e fórmulas prontas, nas mãos do grupo, tudo é desconstruído.
Por vezes “isolados” em um ambiente próprio, perceba como a banda carrega para dentro do registro um elemento cada vez mais raro em outros lançamentos nacionais: o clima de festival. Ainda que as apresentações em concursos regionais, performances em teatros e espaços separados das principais casas de show do país sirvam de estímulo para esse resultado, é dentro de estúdio que a herança referencial do grupo brilha e cresce de maneira assertiva. Seja na voz contorcida de Salma Jô, pisando no solo fértil de Elis Regina e Baby do Brasil, ou nas guitarras de Aquino e bateria firme de Machado, íntimas de Caetano Veloso no fim dos anos 1960, nítida é a postura do grupo em construir uma obra intensa, centrada no espetáculo, na ovação e diálogo aberto com o público.
Não por acaso o espectador parece esgotado, até mesmo suado, ao encerramento da obra. De forma positiva, a estreia do Carne Doce é um trabalho que suga a energia do ouvinte, arremessado em todas as direções ao longo da obra. Tumulto. Em um exercício ascendente, cada faixa serve de alicerce para a canção seguinte, movimento que faz da trinca Sertão Urbano, Passivo e Preto Negro um ato eufórico e completamente insano. Vozes que esbarram nas guitarras de Macloys Aquino e sintetizadores de João Victor Santana; o baixo de Maia preenchendo as lacunas e a bateria (marcial) de Machado que parece reger toda a arquitetura crescente do disco. Ao final, apenas a sutileza de Amigo dos Bichos e Fetiche, peças essenciais para que o ouvinte tome fôlego e mergulhe no psicodélico eixo final da obra.
Perturbador encarar como estreia uma obra que já nasceu adulta, encharcada pela maturidade em cada nota ou mínima fração vocal. Em uma travessia essencialmente coesa, esquiva de excessos e possíveis instantes de morosidade – são apenas dez faixas -, o quinteto parece interpretar cada composição do trabalho um fragmento de fato necessário para o crescimento da obra. Arranjos marcados pelo frescor, voz louca e lírica tão vasta, que cada curva do disco esconde um universo totalmente novo ao visitante. De fato, um imenso o Sertão Urbano como anuncia a canção homônima, um domínio quase particular, porém, aberto em essência ao visitante.